A Inspiração das Escrituras - II » Tifsa Brasil

A Inspiração das Escrituras – II

O uso do termo inspiração tem a finalidade de desig­nar a influência controladora que Deus exerceu sobre os es­critores da Bíblia. Tem a ver com a habilidade comunica­da pelo Espírito Santo, de receber a mensagem divina e de registrá-la com absoluta exatidão. O que diferencia a Bíblia dos demais livros do mundo é a sua inspiração divina. É devido à sua inspiração que a Bíblia é chamada A Palavra de Deus.

1. O Fato da Inspiração das Escrituras

É muito interessante compreendermos a contribuição exata do fato de que a inspiração divina das Escrituras re­sume o propósito divino da revelação (2 Pd 1.19-21). Este é um assunto que precisa ser exposto com a mais absoluta clareza face às objeções contra ele levantadas. Contra a crença de que as

Escrituras resumem em si a totalidade do propósito da revelação divina, levantam-se os seguintes argumentos:

a) Cristo Versus Apóstolos

Este conceito consiste em distinguir entre a crença de Cristo e a dos apóstolos, supostamente em níveis diferen­tes. Tem o propósito de apresentar Cristo em oposição aos apóstolos, procurando salvá-los das errôneas tradições dos judeus, incluindo evidentemente a crença na inerrância das Escrituras. Procurando dar bases escriturísticas a essa errônea interpretação, os seus defensores valem-se de pas­sagens bíblicas isoladas, tais como: Mateus 22.29; Marcos 12.24 e João 5.39.

b) Acomodação

Segundo este argumento, os apóstolos criam que a inerrância das Escrituras judaicas se constituía numa teo­ria insustentável. Deste modo, em vez de adotarem uma li­nha de interpretação revolucionária, os escritores do Novo Testamento teriam decidido por acomodar a sua lingua­gem à realidade espiritual dos seus dias. Um dos principais defensores deste argumento disse que “as Escrituras do Novo Testamento estão completamente dominadas pelo espírito de sua época. Assim o seu testemunho concernente â inspiração das Escrituras carece de valor independente”.

c) Ignorância

Os defensores deste argumento dizem que os apóstolos eram “homens sem letras e indoutos” (At 4.13), e, portanto, esta­vam sujeitos a errar, e que Cristo, devido à sua encarnação, sabia apenas um pouco acima dos seus contemporâ­neos. Ainda, segundo este argumento, uma vez que Cristo não teve acesso às descobertas científicas do nosso tempo, não podia ter estado muito acima do nível cultural da sua própria época.

d) Contradição

Sempre tem havido quem discuta no tocante à supos­ta “contradição”, “inexatidão” e “inconsistência” das Es­crituras. Segundo esses críticos, um livro não pode ter tão grande valor como o atribuído à Bíblia, quando contém to­dos estes elementos. Esses argumentos quanto à inspiração e inerrância das Escrituras, não têm nada de novo. A negação da ori­gem divina da Bíblia tem aparecido em todas as gerações com maior ou menor intensidade neste mundo onde medra a incredulidade. A raiz do problema está no que se há de aceitar como última palavra no assunto: Devemos aceitar o ensinamento da Bíblia acerca de si mesma, ou aceitar o ensinamento contraditório de homens?

2. O Que a Bíblia Diz Acerca da Sua Inspiração

Como qualquer outra doutrina bíblica, a doutrina da inspiração deriva das Escrituras. A Bíblia mesma testifica abundantemente da sua inspiração e sustenta o ponto de vista mais estrito com respeito ao assunto. Os escritores do Antigo Testamento tinham consciência de que escreviam aquilo que o Senhor lhes mandava (Ex 17.14; 34.27; Nm 33.2; Is 8.1;30.8; Jr 25.13;30.2; Ez 24.1; Dn 12.4) Os profetas tinham consciência de que eram portadores duma mensagem divi­na, e, portanto, a introduziam com fórmulas, como: “As­sim diz o Senhor” – “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo” – “Assim me mostrou o Senhor Jeová”, etc. Estas fórmulas se referem à palavra falada, porém se aplicam também à palavra escrita (Jr 36.27,32; Ez 24.1; Dn 12.4). Os escritores do Novo Testamento com freqüência ci­tam passagens do Antigo Testamento como palavra de Deus ou do Espírito Santo (Mt 15.4; Hb 1.5; 3.7; 4.3; 5.6; 7.21).Paulo fala de suas próprias palavras como palavras que o Espírito lhe havia ensina­do (1 Co 2.13), e alega que é Cristo quem fala a ele (2 Co 13.3).Sua mensagem aos tessalonicenses é “a palavra de Deus” (1 Ts 2.13). Finalmente, diz na passagem clássica da inspiração: “Toda a Escritu­ra divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça ” (2 Tm 3.16).

3. A Natureza da Inspiração das Escrituras

Ao considerar a natureza da inspiração das Escritu­ras, atente-se primeiramente para dois conceitos errôneos, porém comuns, conhecidos como: “inspiração mecânica” e “inspiração dinâmica”.

a) Inspiração Mecânica

Com frequência se tem concebido o processo da inspi­ração das Escrituras duma maneira mecânica. Segundo este conceito, Deus simplesmente ditava o que os autores humanos dos livros da Bíblia deviam escrever. Estes escri­tores seriam qual amanuenses do Espírito Santo, regis­trando seus pensamentos em palavras que Ele escolhia. As faculdades mentais dos escritores se encontravam em re­pouso e não contribuíam de forma alguma no conteúdo ou forma dós seus escritos.

Ê assim que o estilo das Escrituras é o estilo do Espírito Santo.As investigações, porém, têm mostrado que este con­ceito é insustentável. A Bíblia mesma dá prova de que os seus escritores não eram meros instrumentos passivos na produção dos seus livros, mas sim, eles eram autores no verdadeiro sentido da palavra. Em alguns casos os escritos da Bíblia são resultados de investigações históricas, pois se referem a essas investigações (Lc 1.1-4), e às vezes fazem menção de suas fontes, como os livros de Samuel, Reis, Crônicas, etc. Noutros casos os autores registram as suas próprias expe­riências pessoais, como nos Salmos, nos livros proféticos, em Atos, e nas Epístolas. Cada escritor tinha estilo pró­prio. O estilo de Isaías não é como o de Ezequiel, nem o es­tilo de Paulo ê como o de Pedro.

b) A Inspiração Dinâmica

Face ao conceito mecânico da inspiração das Escritu­ras, vários eruditos nos séculos XVIII e XIX optaram pelo que chamaram “inspiração dinâmica”. Esta teoria rejeita a idéia duma operação direta do Espírito Santo sobre a produção dos livros da Bíblia, isto é, uma operação que te­ria como propósito específico a produção desses livros, e põe em seu lugar a idéia duma inspiração geral dos escrito­res. Essa inspiração teria sido uma característica perma­nente dos escritores. Ela não difere em essência, mas so­mente em grau, da iluminação espiritual do crente em ge­ral. Ela penetra em todas as partes das Escrituras, ainda que não em todas na mesma medida. Os livros históricos, por exemplo, não seriam inspirados na mesma medida que os livros doutrinários. Desse modo, ainda que em geral os escritos bíblicos sejam confiáveis, eles estão sujeitos a er­ros principalmente os livros históricos.Evidentemente, este conceito não faz justiça aos da­dos bíblicos sobre a inspiração das Escrituras, uma vez que ele despoja a Bíblia do seu caráter sobrenatural, reduzin­do-a ao nível da revelação geral, destruindo, portanto, a sua infalibilidade.

c) A Inspiração Orgânica

O conceito de Inspiração geralmente aceito nos círcu­los cristãos conservadores, se denomina inspiração “plená­ria” ou “orgânica”. O termo “orgânico” põe em relevo o fato de que Deus não usou os escritores da Bíblia, no senti­do mecânico, como se eles fossem robôs, mas que atuou sobre eles de forma orgânica, em harmonia com as leis do ser interior desses escritores. Isto é, Deus os usou tal qual eram, com seu caráter e temperamento, seus dons e talen­tos, sua educação e cultura, seu vocabulário e estilo; iluminou as suas mentes, os impulsionou a escrever, excluindo a influência do pecado sobre suas atividades literárias.

Na verdade, Deus os guiou na seleção de suas palavras e na ex­pressão de seus pensamentos.Este conceito apresenta os escritores da Bíblia, não como simples amanuenses, mas como verdadeiros autores da Bíblia. Ás vezes eles registravam comunicações diretas de Deus, e em outras ocasiões escreviam os resultados de suas próprias investigações históricas, ou registravam suas experiências. Isto explica a individualidade dos livros da Bíblia, posto que cada escritor tinha seu próprio estilo e firmou em sua produção literária seu selo pessoal e as mar­cas da época em que viveu.

4. Provas da Inspiração da Bíblia

Dentre outras provas da inspiração da Bíblia, a dar-lhe patente divina, destacam-se as seguintes:

a) A Aprovação da Bíblia por Jesus

Jesus aprovou a Bíblia ao lê-la, ao ensiná-la, ao cha­má-la “a palavra de Deus”, e ao cumpri-la (Lc 4.16-20; 24.27; Mc 7.13; Lc 24.44).Quanto ao Novo Testamento, em João 14.26, o Senhor antecipadamente pôs nele o selo de sua aprovação divina, ao declarar: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho dito”. As­sim sendo, o que os apóstolos ensinaram e escreveram não foi a recordação deles mesmos, mas a do Espírito Santo.

Jesus disse ainda que o Espírito nos guiaria em “toda a verdade” (Jo 16.13,14). Portanto, no Novo Testamento temos a essên­cia da revelação divina.

b) O Testemunho do Espírito Santo no Crente

O mesmo Espírito que conduz o pecador a aceitar a Jesus como Salvador pessoal, convence o neo-convertido da origem divina das Escrituras. Não é necessário que o novo crente faça um curso neste sentido, não. A crença na auto­ria e inspiração divina das Escrituras é algo que se dá ins­tantaneamente.

Samuel Rutherford, num tratado contra a teologia vaticana, pergunta: “Como sabemos que a Escritura é a Pa­lavra de Deus?” Se já houve um lugar onde se poderia es­perar que um teólogo empregasse o estilo de argumentos ra­cionais dos próprios teólogos católicos, conforme fizeram alguns teólogos protestantes do passado, seria aqui. Rutherford, ao invés disto, apelou ao Espírito de Cristo fa­lando na Escritura: “As ovelhas são criaturas dóceis (Jo 10.27). As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as co­nheço, e elas me seguem… assim o instinto da Graça co­nhece a voz do Amado entre muitas vozes (Ct 2.8), e este poder de discernimento está no sujeito” (O alicerce da Autoridade Bíblica – Edições Vida Nova – Págs. 50,51).

c) O Fiel Cumprimento da Profecia

Inúmeras profecias se cumpriram no passado, em sen­tido parcial ou total; inúmeras outras cumprem-se em nos­sos dias, e muitas outras cumprir-se-ão no futuro.O cumprimento contínuo das profecias bíblicas é uma prova da sua origem divina. O que Deus disse, sucederá (Jr 1.12).Glória, pois, a Deus, por tão sublime livro!

d) A Perenidade das Escrituras

O tempo não exerce nenhuma influência sobre a Bíblia. É o livro mais antigo do mundo, e ao mesmo tempo o mais moderno. O jornal de amanhã não se lhe sobrepuja em atualidade. Em mais de vinte séculos de progresso em todas as áreas da ciência, homem algum tem sido capaz de melhorar a Bíblia, nem de fazer outro livro que lhe exceda em valor. Um livro de origem puramente humana, após tantos milênios de uso, já teria caducado e, se conservado, com certeza estaria guardado nalgum museu, ou então já teria sido consumido pelas traças. Esta é mais uma irrefu­tável prova da origem sobrenatural das Escrituras.

5. A História da Igreja Aprova a Inspiração das Escrituras

Os grandes líderes espirituais cujos nomes a História da Igreja faz menção elevam as suas vozes em defesa da inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras.Seja qual tenha sido o meio pelo qual Agostinho che­gou ao entendimento de que a Bíblia é a Palavra de Deus, sua posição quanto a inspiração e inerrância das Escritu­ras, brota espontânea e abundantemente nos seus escritos. Ele escreve que “nenhuma palavra e nenhuma sílaba é su­pérflua” nas Escrituras. Confessa: “Aprendi a dar a eles (os Livros canônicos) tal honra e respeito a ponto de crer com muita firmeza que nenhum destes autores errou ao es­crever qualquer coisa que seja”. As “mãos dos autores das Escrituras escreviam aquilo que a cabeça ditava”, insistia. “Nenhuma discordância de qualquer tipo teve permissão de existir” na Bíblia de Agostinho. Conforme escreve See-berg: “A mais alta autoridade normativa e a única infalí­vel é, para Agostinho, a Sagrada Escritura” (O Alicerce da Autoridade Bíblica – Edições Vida Nova – Págs. 50,51).

Os Reformadores adotaram sem questionar e sem re­servas a declaração acerca da inspiração, e até mesmo da inspiração verbal da Bíblia. Lutero se mostra consistente quando o ouvimos trovejar no fim da sua vida: “Logo, ou cremos redondamente, e totalmente e completamente, ou nada cremos: o Espírito Santo não se deixa cortar ou sepa­rar, de modo que deixasse uma parte ser ensinada ou crida de modo verdadeiro, a outra parte de modo falso… Pois é moda dos hereges começarem primeiramente com um úni­co artigo, mas depois todos devem ser totalmente negados, como um anel que não tem mais valor quando tem uma quebra ou corte, ou um sino que, quando está rachado num lugar, não soará mais, e é totalmente inútil”.João Wesley levanta quatro argumentos grandes e po­derosos que nos induzem a crer que a Bíblia precisa ser de origem divina: os milagres, as profecias, a bondade da dou­trina e o caráter moral dos escritores. Todos os milagres fluem do poder divino; a bondade da doutrina, da bondade divina, e o caráter moral dos escritores, da santidade divi­na.Deste modo o cristianismo é constituído sobre quatro grandes pilares: o poder, a compreensão, a bondade e a santidade de Deus.

O poder divino é a fonte de todos os mi­lagres; a compreensão divina, a da bondade da doutrina; a santidade divina, a do caráter moral dos escritores.Prosseguindo no seu esforço de provar a origem divina das Escrituras, Wesley diz o seguinte:A Bíblia deve ser a invenção de homens bons ou de an­jos; de homens maus ou de demônios; ou de Deus.

a) Ela não podia ser a invenção de homens bons ou de anjos, pois eles não fariam nem poderiam fazer um livro contando mentiras durante todo o tempo em que o esta­vam escrevendo, dizendo: “Assim diz o Senhor” quando o livro era a sua própria invenção.

b) Ela não podia ser invenção de homens maus ou de demônios pois eles não fariam um livro que impõe todos os deveres, proíbe todos os pecados e condena as suas almas ao inferno por toda a eternidade.

c) Eu tiro, portanto, a conclusão de que a Bíblia preci­sa ter sido dada por inspiração divina (Coletânea da Teologia de João Wesley – Imprensa Metodista – Pág. 18). Continuar lendo…

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