História Dos Hebreus De Abraão à Queda De Jerusalém - Capítulo 15 » Tifsa Brasil

História dos Hebreus De Abraão à queda de Jerusalém – Capítulo 15

Petrônio, comovido pelas razões dos judeus e julgando que não se deviam mesmo reduzi-los ao desespero, escreveu a Caio de uma
maneira que procurava ganhar tempo. O cruel príncipe enfurece-se, mas ele dissimulou sua raiva escrevendo em resposta a Petrônio.

Essas palavras foram acompanhadas de tantas lágrimas e suspiros, que encheram de compaixão a todos os que as ouviram e particularmente Petrônio, que era naturalmente afável e moderado. O pedido feito em nome de todo o povo parecia-lhe justo e jamais nada foi mais deplorável do que o estado em que o viam reduzido. Petrônio tratou do assunto com seus conselheiros e ficou satisfeito por ver que aqueles que antes eram os mais rigorosos começavam a ceder, e que os outros não dissimulavam sua comoção pela sorte e pela aflição daquele povo. Assim, embora ele não desconhecesse a crueldade de Caio e de como jamais ele perdoava, parecia agir levado pela piedade de nossa religião, quer porque sendo homem de letras já há muito a conhecia, quer porque depois a conhecera desde que assumira o cargo de governador da Ásia e na Síria, onde há um grande número de judeus, quer porque pelo seu natural se inclinasse a tudo o que é justo e razoável, ou quer ainda, porque Deus dá ordinariamente bons sentimentos aos homens de bem, para que deles se sirvam em próprio proveito e para o do público, como aconteceu nessa ocasião.

A resolução foi então tomada, de fazer os escultores não se apressarem, mas ordenar-lhes que trabalhassem com calma, para tornar o próprio trabalho o mais perfeito possível, para que se lhe pudesse dar o nome de obra-prima e porque os trabalhos feitos às pressas duram pouco, ao passo que os que são demorados na execução, passam pelos mais apreciáveis de século em século. Petrônio não permitiu aos judeus mandar legados ao imperador, porque ele julgava que lhes não seria vantajoso, nem deveriam depender do capricho do soberano, mas não lhes recusou o que pediam, porque via perigo numa e noutra coisas; escreveu, porém, a Caio, sem lhe falar do pedido que lhe tinham feito e se contentou em atirar a culpa do atraso da consagração daquela estátua sobre os operários que tinham necessidade de mais comodidade para fazê-la digna dele. julgou assim poder ganhar tempo, e talvez Caio se deixasse comover porque estava próxima a ceifa e havia motivo de se temer que os judeus, não fazendo caso da vida, depois da subversão de suas leis, queimassem eles mesmos seus campos de trigo bem como todas as árvores, o que se devia tanto mais temer, quanto se dizia que Caio estava para vir a Alexandria. Não havia probabilidade alguma de que ele se quisesse expor aos perigos do mar com um grande séquito, e era muito mais verossímil que ele passaria por terra ao longo das costas da Síria e da Ásia, onde poderia embarcar e desembarcar quando quisesse e onde, no meio daqueles navios, havia duzentos barcos longos, próprios para lhe trazer os víveres e a forragem, que lhe eram necessários, para reunir em grande quantidade. em todas as cidades da Síria e particularmente as marítimas, por causa da infinita multidão de povos de todas as condições que viriam procurá-lo, tanto da Itália como de todas as outras partes do mundo.

Não se duvidava de que aquela carta seria agradável a Caio e de que ele louvaria mesmo aquele atraso, não em consideração aos judeus, mas para poder reunir mui­tos viveres e assim ela foi escrita e mandada. Mas a cólera do cruel príncipe acendeu-se de tal modo ao lê-la, que seus olhos faiscavam de furor; e ele disse batendo as mãos: “Ora, Petrônio! Ainda não aprendestes a obedecer ao vosso imperador? Vos­sos grandes feitos vos enchem de vaidade e parece que conheceis a Caio só de nome. Mas em breve o conhecereis por vossa própria experiência. Considerais então mais as leis dos judeus, que são meus inimigos mortais, do que as ordens do vosso soberano? Temeis seu grande número como se não tivésseis um exército valoroso em todo o Oriente temido mesmo ao rei dos partos, e vossa compaixão por esse povo é mais poderosa em vosso espírito que o desejo de me obedecer e de me agradar? Tomais como pretexto a necessidade de fazer a colheita para fornecer-me viveres, para a viagem que eu me preparo para fazer, como se eu não o pudesse obter das províncias vizinhas e elas não fossem capazes de me fornecer por sua abundância, ante a esterilidade da Judeia. Mas, por que esperar mais e empregar o tempo em palavras inúteis? Será pela morte desse atrevido que lhe deveremos mostrar a magnitude de sua falta e que minha cólera não se acalme e diminua, ainda que eu deixe de ameaçá-lo”.


O furioso soberano em seguida respondeu a Petrônio, mas como ele tinha medo dos governadores, que eram capazes de suscitar uma revolução e particularmente os que governavam províncias tão distantes e poderosas como aquela extensão de terras que está ao longo do Eufrates, e que tinha também grande tropas, como as da Síria, ele ocultou sua raiva no coração, louvou sua prudência e sua previdência e ordenou-lhe somente que não perdesse tempo para fazer consagrar aquela estátua, pois que a ceifa, podendo então ser feita, não havia mais motivo de se adiar.

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