História dos Hebreus De Abraão à queda de Jerusalém – Capítulo 13 » Tifsa Brasil

História dos Hebreus De Abraão à queda de Jerusalém – Capítulo 13

Extrema aflição em que Petrônio se encontra com relação à ordem que Caio lhe dera, de pôr sua estátua no Templo de Jerusalém, porque ele lhe conhecia a injustiça e via-lhe as consequências.

Caio escreveu, então, que se consagrasse e se pusesse sua estátua no nosso Templo, e tudo fez para que essa ordem fosse cumprida. Ordenou a Petrônio, governador da Síria, que tomasse a metade do exército que se localizava ao longo do Eufrates, para se opor às tentativas dos reis e dos povos do Oriente, a fim de acompanhar aquela estátua, não para lhe tornar a consagração mais solene, mas para dizimar os judeus que tivessem a ousadia de se opor aos seus intentos. É então, assim, cruel príncipe, que prevendo que esse povo se exporia à morte, antes que permitir a violação de suas leis e a profanação de seu Templo, vós lhe declarais guerra e mandais um exército inteiro para consagrar vossa estátua com o sangue de tantas vítimas inocentes, sem poupar as mulheres não menos que os homens?

Essa ordem pôs Petrônio em grande aflição, porque de um lado ele sabia que Caio não toleraria que se provocasse o menor atraso na execução de suas ordens, e de outro, ele via-lhe a execução assaz difícil, porque os judeus sofreriam mil mortes, antes que a subversão de sua religião. Ainda que todos os outros povos tenham amor por suas leis, não são como os judeus. Eles consideram as suas como oráculos que o mesmo Deus lhes outorgasse; aprenderam-nas desde a infância, trazem-nas gravadas no coração e não se cansam de admirá-las e recebem no número de seus cidadãos os estrangeiros que as abraçam, consideram inimigos os que as desprezam e têm tal horror por tudo o que lhes é contrário, que não há nem grandeza, nem fortuna, nem felicidade temporal, que seja capaz de os levar a violá-las. Não precisamos também de melhor prova de seu respeito e veneração pelo Templo, do que ser a morte inevitável para os que ousam entrar no santuário: em todos os outros lugares a entrada é livre, a todos os que são de sua própria nação, de qualquer província eles venham.

Petrônio, passando e repassando estas coisas em sua mente, achava o encargo tão ousado que não se apressou em executá-la: e mais ele agitava esse assunto, mais se persuadia de que não se devia tocar no que se refere à religião, quer porque a justiça e a piedade obrigam a nada se modificar, quer por causa do perigo que havia, não da parte de Deus, mas da dos judeus, que se deixariam levar ao desespero e ele considerava também a multidão do povo daquela nação que não está, como os outros, reunido numa única província, mas tão espalhado em tão grande número, quase por todo o mundo, tanto nos continentes como nas ilhas, que pouco falta para que iguale o número dos habitantes do lugar. Isso dava motivo a temores de que se reunindo de todas as partes eles declarassem uma guerra, que não se poderia vencer, mesmo porque então eles já eram muito fortes na Judeia e não menos hábeis do que valentes, preparados para morrer empunhando as armas, com invencível coragem, antes que abandonar suas leis, tão justas e excelentes, por mais que seus inimigos queiram fazer passar por bárbaras. Esse sensato governador temia também os daquela nação que residem além do Eufrates, em Babilônia e nas outras províncias, porque ele sabia com certeza, vendo com seus próprios olhos, que eles mandavam todos os anos ao Templo, sob o nome de primícias, o dinheiro que diziam sagrado, sem temer o perigo das estradas por maiores que fossem, porque eram levados por um dever de piedade. Assim, ele temia com razão, que apenas soubessem da consagração da estátua, eles se poriam em campo e o rodeariam de todos os lados.

Esses pensamentos detinham-no, mas outros comentários punham a agitação e a perturbação em seu espírito quando ele se recordava de que seu senhor era um jovem príncipe que só conhecia a justiça da sua vontade e não tolerava que o desconhecessem, por mais injustas que fossem as suas ordens e cujo orgulho e presunção chegavam a tal excesso de loucura, que o faziam esquecer de que ele era homem, para passar por Deus; e assim ele não podia executar a ordem que lhe dera, sem correr risco de vida, com esta diferença, que a poderia salvar na guerra cujos eventos são duvidosos, ao passo que não podia não perdê-la, se se recusasse obedecer ao soberano.

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