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A Administração da Igreja – VIII

O Novo Testamento não provê um código detalhado de regulamentos e preceitos para o governo da Igreja, e a própria Adélia de tal código pode parecer repugnante para a liberdade da Dispensação do Evangelho. No entanto Cristo deixou atrás de si um corpo de líderes (os apóstolos), por ele mesmo escolhido, ao qual ofereceu alguns princípios gerais para o exercício de sua função reguladora.

1. Os Doze Apóstolos

Os doze apóstolos foram escolhidos, a fim de que estivessem com Jesus Cristo (Mc 3.14), e essa associação pessoal qualificou-os para agirem como suas testemunhas (At 1.8). Por isso, desde o princípio foram capacitados a expelirem demônios e a curarem enfermos (Mt 10.1), poder esse que foi renovado e aumentado, atingindo a sua plenitude com o derramamento do Espírito Santo sobre suas vidas (Lc 24.49; At 1.8). Na sua primeira missão foram enviados a pregar (Mc 3.14), e na Grande Comissão foram instruídos a ensinar todas as nações. Assim receberam de Cristo a autoridade para evangelizar o mundo. Porém, foi-lhes igualmente prometida uma função mais específica como juízes e governantes do povo de Deus (Mt 19.28; Lc 22.29,30), com o poder de ligarem e desligarem (Mt 18.18), e de perdoarem e reterem pecados (Jo 20.23). Tal linguagem deu origem à concepção das chaves tradicionalmente definidas, como: chave da doutrina, para ensinar qual conduta é proibida e qual é permitida (esse é o sentido técnico de ligar e desligar na fraseologia legal judaica), e chave da disciplina, para excomungar os indignos e reconciliar os contritos, declarando o perdão de Deus mediante a remissão de pecados exclusivamente em Cristo. Pedro recebeu esses poderes em primeiro lugar (Mt 16.18,19), como também recebeu a comissão pastoral de alimentar o rebanho de Cristo (Jo 21.15), mas fê-Io de modo representativo, e não como uma capacidade pessoal; pois quando tal comissão é repetida por Jesus em Mateus 18.18, a autoridade de exercer o ministério da reconciliação é investida sobre todo o corpo de discípulos, como um todo, como também é a congregação fiel, e não qualquer indivíduo particular, que age em nome de Cristo para abrir o Reino aos crentes e fechá-lo aos incrédulos. Semelhantemente, essa função autoritativa é exerci da primariamente pelos pregadores da Palavra, e o processo seletivo, de conversão, é visto em operação desde a primeira pregação de Pedro, e daí em diante (At 2.37-47). Quando Pedro confessou a Cristo, sua fé se tornou típica do alicerce rochoso sobre o qual a Igreja está edificada; mas, em realidade, o alicerce da Jerusalém Celeste contém os nomes de todos os apóstolos (Ap 21.14) e não o de Pedro, apenas, pois estes agiam conjuntamente nos primeiros dias da Igreja, e a idéia de que Pedro tenha exercido qualquer primado entre eles é refutada, parcialmente pela posição de liderança ocupada por Tiago no Concílio de Jerusalém (At 15.13,19) e parcialmente pelo fato de que Paulo resistiu a Pedro face a face (Gl 2.11). Era uma capacidade conjunta que os apóstolos proviam liderança para a Igreja primitiva; e essa liderança era eficaz tanto na misericórdia (At 2.42) como no juízo (At 5.1-11). Exerciam autoridade geral sobre cada congregação, enviando dois dentre os seus, a fim de supervisionarem novos desenvolvimentos em Samaria (At 8.14), e resolvendo com os anciãos qual a orientação comum para a administração dos gentios (At 15), enquanto que “a preocupação com todas as igrejas” (2 Co 11.28), sentida por Paulo, é ilustrada tanto pelo número de suas viagens missionárias, como pelo grande volume de sua correspondência.

2. Após a Ascensão de Cristo

O primeiro passo dado pelos apóstolos logo após a ascensão de Jesus Cristo foi preencher a vaga deixada por Judas, e isso fizeram mediante um apelo direto a Deus (At 1.24-26). Outros foram posteriormente contados entre os apóstolos (Rm 16.7; 1 Co 9.5,6; Gl 1.19),mas as qualificações de ser testemunha ocular da ressurreição (At 1.22), e de ter sido de algum modo comissionado por Cristo, não eram de natureza a poderem ser perpetuadas indefinidamente. Quando a pressão do trabalho aumentou, fizeram escolher sete assistentes, ou diáconos (At 6.1-6), eleitos pela congregação e ordenados pelos apóstolos, a fim de que administrassem a caridade entre os membros carentes da Igreja. Os oficiais eclesiásticos com denominação distintiva são pela primeira vez encontrados nos anciãos de Jerusalém, os quais receberam dons (AT 11.30) e participaram do Concílio aí realizado (At 15.6). Esse ofício foi provavelmente copiado do presbítero das sinagogas judaicas; pois a própria Igreja é chamada de “sinagoga” em Tiago 2.2, e os anciãos judaicos, aparentemente ordenados por imposição de mãos, eram os responsáveis pela manutenção da disciplina, com o poder de ligar e desligar os que desobedecessem à Lei.

O presbítero cristão, todavia, sendo um ministro evangélico, adquiriu deveres adicionais para pastorear (Tg 5.14; 1 Pd 5.1-3) e para pregar (1 Tm 5.17). Foram ordenados anciãos para todas as igrejas da Ásia Menor por Paulo e Barnabé (At 14.23), enquanto que Tito foi exortado a fazer o mesmo em relação à igreja em Creta (Tt 1.5); e embora os distúrbios em Corinto possam sugerir que uma democracia mais completa prevalecia naquela congregação (1 Co 14.26), o padrão geral de governo eclesiástico na época apostólica parece ter sido uma junta de anciãos ou pastores, possivelmente aumentada por profetas e mestres, que governavam cada uma das congregações locais, tendo os diáconos como ajudantes da administração, e contando com a superintendência geral da Igreja inteira provida pelos apóstolos e evangelistas. Nada existe neste sistema neotestamentário que corresponda exatamente ao moderno episcopado diocesano. Os bispos, quando são mencionados (Fp 1.1), formavam uma junta de oficiais da congregação local, a posição ocupada por Timóteo e Tito era a de ajudantes pessoais de Paulo em sua obra missionárias. O que é mais provável é que quando um ancião adquiria presidência permanente da junta, passava então a ser especialmente designado pelo título de bispo; porém, mesmo quando o bispo monárquico aparece nas cartas de Inácio, continuava sendo apenas o pastor de uma única congregação. Na terminologia semelhante a uma hierarquia, encontramos descrições vagas como “o que preside”, “os que vos presidem no Senhor” (Rm 18.8; 1 Ts 5.12), ou então “vossos guias” (Hb 13.7,17,24). OS anjos das igrejas citadas em Apocalipse 2 e 3, têm sido algumas vezes considerados como bispos verdadeiros; porem, mais provavelmente são personificações de suas respectivas comunidades. Aqueles que ocupam posições de responsabilidade têm o direito de serem honrados (1 Ts 5.12,13), de serem sustentados (1 Co 9.15), e de estarem a salvo de acusações frívolas (1 Tm 5.19) .

3. Princípios Gerais

Cinco princípios gerais podem ser deduzidos do ensinamento neotestamentário como um todo: Toda a autoridade se deriva de Cristo (Mt 20.26-28); A humildade de Cristo provê o padrão para o serviço cristão; O governo d.a Igreja deve ser exercido conjuntamente e não hierarquicamente: Ensinar e dirigir são funções intimamente associadas. Ajudantes administrativos são necessários para cooperarem com os pregadores da Palavra (At 6.2,3; – O Novo Dicionário da Bíblia – Edições Vida Nova – Págs. 679-681). Quanto à administração e governo da Igreja; convém, pois, saber:

– Cristo é a Cabeça da Igreja. Sabemos que Deus “pôs todas as coisas embaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo; como também Cristo é a cabeça da igreja; sendo ele próprio o salvador do corpo” (Ef 1.22; 5.23). Da mesma forma que a cabeça prove, sustenta e dirige o corpo, assim também Cristo faz a cada um dos membros de seu corpo espiritual a Igreja. O Senhor é capaz de dirigir os menores detalhes da nossa vida, e quem desconhece ou se nega a reconhecer a direção do Senhor em sua vida diária jamais conhecerá as doçuras da vida verdadeiramente cristã.

– Quando o Cristo subiu ao Céu, concedeu certos dons à sua Igreja. São dons em forma de homens por Ele chamados. Esses diferentes dons estão relacionados em Efésios 4.11. Esses mesmos dons operaram em Cristo, pois através do Novo Testamento vemo-Io como apóstolo (Hb 3.1), profeta (At 3.22,23), evangelista (Lc 4.18), pastor (Jo 1.10) e mestre (Jo 13.13,14).Agora, exaltado à destra do Pai, Jesus concede à Igreja esses dons. Ministeriais que nele operaram, para que a Igreja seja edificada. Nada há mais indefeso que um rebanho de ovelhas sem pastor, e a Igreja é comparada a um rebanho de ovelhas.

– As palavras “pastor”, “bispo” e “presbítero” têm o mesmo significado quanto ao cargo. A palavra “pastor” é a tradução de um vocábulo grego que significa “supervisor”. Pastor, no original, e alguém que conduz e alimenta as ovelhas (1 Pd 1.25). Ao ministro da casa de Deus não basta ser intelectual capacitado para o exercício do ministério cristão. É imprescindível que ele seja revestido do poder do Espírito Santo: Nem mesmo o Senhor Jesus Cristo iniciou o seu ministério terreno senão após receber a plenitude do Espírito Santo sobre a sua vida. Portanto, se o ministro deseja que o seu ministério seja uma continuação do ministério do Salvador, deve se deixar possuir do mesmo poder que Ele (Jo 14.12,13).

É imperioso que todos os ministros sejam revestidos do poder do alto (Jo 14.16,17).

– Há uma pesada responsabilidade sobre os ombros do ministério evangélico.O ministro de Deus é tal qual um atalaia sobre as muralhas de Sião. Ele vê o perigo e avisa os pecadores do iminente juízo divino. Caso ele não aja assim, será responsabilizado pela perda das almas sob seus cuidados. A mais terrível declaração com respeito aos pastores sem fé, vitimadas pelo pecado da desobediência, avareza, embriaguez e glutonaria, foi proferida pelo Senhor através do profeta Isaías (Is 56.9-12). O que foi dito aos pastores de Israel, deverá servir de solene aviso aos ministros da casa de Deus hoje em dia.

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