A origem dos demônios tem se constituído tema de especulação durante séculos, não só entre os cristãos, mas também entre pensadores pagãos. Os gregos, por exemplo, acreditavam que os demônios fossem a alma desencanada dos homens maus, enquanto que alguns escritores cristãos são da opinião de que os demônios são espíritos duma raça que habitou a Terra antes da raça inaugurada com a formação de Adão.
1. A Existência dos Demônios
A existência de demônios foi reconhecida por Jesus, pelos setenta e pelos santos apóstolos do Senhor (Mt 8.28-32; 10.8; 12.27,28; Lc 10.17; 1 Co 10.20,21; 1 Tm 4.1; At 16.14-18; Tg 2.19). Jesus reconheceu a existência de demônios falando a respeito deles e para eles. Já os setenta, aos quais Jesus nomeou e enviou de dois em dois, tiveram de enfrentar os demônios, e retornaram como relatório de que os demônios se lhes tornavam sujeitos através do nome de Cristo. Antes de partir para estar com o Pai, Jesus prometeu poder aos continuadores da sua obra na terra. Ele lhes prometeu que a pregação do Evangelho seria acompanhada e confirmada por sinais e prodígios, dentre os quais a autoridade para expulsar demônios (Mc 16.18).
2. A Natureza dos Demônios
Quanto à sua natureza essencial, os demônios são descritos na Bíblia como seres dotados de inteligência pessoal (Mt 8.29,31; Lc 4.35,41; Tg 2.19; Mc 1.23,24; At 19.13,15); são seres espirituais (Lc 9.38,39,42; Mc 5.2,7-9,12,13,15) ao que parece, são espíritos destituídos de seus corpos (Mt 12.43,44; Mc 5.10-13); são muitos em número (Mc 5.9). Partindo da suposição de que os demônios sejam espíritos desencarnados, talvez de alguma raça ou ordem de seres pré-adâmicos, Bancroft emite a seguinte opinião: “Se forem realmente espíritos desencarnados, isso explicaria o fato de que procuram encarnar-se, pois, ao que parece, quando desencarnados são incapazes de operar na plena força de sua maldade. Não será que esses demônios são espíritos daqueles que palmilharam esta terra na carne, antes da ruína descrita no segundo versículo do Gênesis, e que por ocasião daquele grande cataclismo, foram desencarnados por Deus, e deixados ainda sob o poder de seu líder, de cuja sorte terão de compartilhar afinal? Há um fato frequente registrado que, não há dúvida, parece confirmar tal hipótese: pois lemos que os demônios estão continuamente procurando apossar-se dos corpos dos homens, a fim de empregá-los para seus próprios fins. E não é igualmente possível que essa propensão indique uma incômoda falta de sossego, pelo que vivem a vaguear, o que se origina do senso de serem incompletos; indique o intenso desejo de escaparem de uma condição intolerável – de estarem desencarnados – condição para a qual não foram criados? e indique um anseio tão intenso que, se não puderem satisfazê-Io doutro modo, se dispõem até mesmo a entrar nos imundos corpos dos porcos? “Não encontramos tal propensão da parte de Satanás e de seus anjos. Eles, sem dúvida, ainda retêm seus corpos etéreos, pois, de outro modo, como poderiam manter o seu conflito com os anjos de Deus? Provavelmente considerariam com grande desdém o grosseiro e desajeitado tabernáculo que é o corpo do homem. Os anjos, pode ser que entrem nos corpos físicos dos homens: isso, porém, não por inclinação, mas tão-somente porque isso se torna absolutamente necessário para a consecução de alguma grande conspiração do mal. Que os anjos não são meros espíritos desencarnados, parece claro pelas palavras de nosso Senhor, em Lucas 20.34-36” (Teologia Elementar – Imprensa Batista Regular – Págs. 291,292). Com esta opinião de Bancroft concorda grande número dos teólogos que se aventuram a pesquisar a origem dos demônios. Porém, o quase que total silêncio das Escrituras quanto a este assunto, parece sugerir que a origem desses seres de extrema maldade, se constitui em mais um dos incontáveis mistérios só plenamente conhecidos de Deus. Portanto, neste caso, a prudência nos recomenda não afirmar com certeza aquilo que a Bíblia não diz com clareza. Quanto à natureza moral, os demônios são maus e maliciosos – degenerados em seu caráter (Mt 8.28; Lc 4.33,36; 9.39); são vis e perversos – baixos em sua conduta (Mt 15.22; Lc 9.39); são servis e obsequiosos – degradados em seu serviço – o serviço que prestam a Satanás (Mt 12.24-27).
3. As Atividades dos Demônios
Os demônios têm o maligno poder de se apossarem dos corpos dos seres humanos e dos irracionais (Mt 4.24; 8.16,28,33; Mc 5.8,11-13; At 8.7); trazem aflição mental e física aos homens (Mt 9.32,33; 12.22; Mc 5.4,5; Lc 9.37-42). Produzem impureza moral (Mt 10.1; Mc 5.2; Ef 2.2; 2 Pd 2.10-12). Existem cinco aspectos ou fases nas relações dos demônios com os homens, assim definidos:
a) Tentação
Esta é a tentação na forma de sugestão espiritual. Essa misteriosa influência, vinda de um mundo invisível à qual tanto o não-crente como o crente estão continuamente expostos, é referida muitas vezes na Bíblia, especialmente no Novo Testamento (Ef 6.11,12; 1 Jo 4.1)..
b) Obsessão
Este é o primeiro passo para a possessão demoníaca. Trata-se de domínio demoníaco que é resultado da entrega voluntária e habitual à tentação ou às tendências pecaminosas (Ef 4.17-29). Nesse estado, embora o indivíduo esteja sob horrendo domínio satânico, contudo é perfeitamente livre segue os ditames de sua própria vontade, e retém, sua própria personalidade.
c) Crise ou Transição
A crise ou transição é a fase caracterizada por uma luta em torno da posse, quando o indivíduo resiste à ação demoníaca, podendo algumas vezes ser bem sucedido (Mt 15.22-28; Tg 4.7; Ef 4.26,27).
d) Possessão
Com referência à pessoa, essa fase pode ser designada como sujeição e subserviência, e, com referência ao demônio, treinamento e desenvolvimento. A condição da pessoa é, a maior parte do tempo, saudável e normal, excetuando por ocasião do paroxismo, que ocorre na passagem do estado normal para o anormal. Uma das principais características dessa fase é a adição duma nova personalidade. Somente às pessoas que chegaram a essa fase é que se aplica, apropriadamente, o termo “possessão” (Mc 9.17-27; 5.2-13).
e) Capacidade Demoníaca
Esta fase é reconhecida quando a pessoa já desenvolveu capacidades para ser usada, e se dispõe para isso. Já é escrava do demônio, treinada, acostumada, voluntária – na linguagem espírita moderna, um “médium desenvolvido”.