A Natureza Essencial do Homem - III » Tifsa Brasil

A Natureza Essencial do Homem – III

O homem tem sido a principal causa da indagação dos patriarcas, filósofos e pensadores em todos os lugares e em todos os tempos. Para encontrar a resposta a este mistério, que é o homem, precisamos ir da filosofia para a Bíblia Sa­grada.

1. Quem é o Homem?

O patriarca Jó parece ter sido o primeiro dos homens mencionados na Bíblia a interrogar acerca do homem. Foi ele quem perguntou a Deus: “Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas à prova?”(Jó 7.17,18). Depois foi a vez do salmista indagar: “Que é o homem, que dele te lembres?”(Sl 8.4) “Senhor, que é o homem para que dele tomes conhecimento? e o filho do homem para que o estimes?”(Sl 144.3). Conta-se que Scheleiermacher, filósofo e teólogo ale­mão, estava, tarde da noite, sentado num jardim, quando um guarda noturno o abordou perguntando: “Quem é o se­nhor?” “ótima pergunta. Eu gostaria de saber”, respon­deu o filósofo.”O Pensador”, obra escultural do artista francês Au­gusto Rhodin, configura o homem em pertinaz busca da resposta às perguntas: “Quem sou eu?” “De onde vim?” “Por que estou aqui?” “Para onde vou?”

a) O Que Diz a Filosofia

O que alguns filósofos ensinam sobre o homem, nem sempre se harmoniza com a Bíblia. Por exemplo: Platão disse que o homem é um bípede sem penas. Nietzsche dis­se que o homem é mais macaco do que qualquer macaco. Aristóteles disse que o homem é um animal sociável. Molièere ensinou que o homem é um animal vicioso. William Hazlitt disse que o homem é o único animal que ri e chora.

b) O Homem como um Ser Transitório

Alguém definiu a transitoriedade da vida humana nas seguintes palavras: “O homem é um embrulho postal que a parteira despachou ao coveiro”. A Bíblia também fala do homem físico natural como um ser cuja existência física está limitada aos poucos anos que Deus lhe deu na terra.As Escrituras apresentam a vida terrena do homem como: uma sombra, os dias de um jornaleiro, uma lançadeira, um mensageiro rápido, a extensão de apenas um palmo, a urdidura de um tecelão, um vapor passageiro (Jó 8.9; 7.1,6; 9.25; Sl 39.5; Is 38.12; Tg 4.14).

c) O Homem Como Ser Físico

O físico é o aspecto pelo qual o homem é melhor co­nhecido. Por ele o branco se distingue do negro, o grande do pequeno, o obeso do magro e o belo do feio.O corpo humano possui 150 ossos e 500 músculos. O peso do sangue de um adulto é de cerca de 15 quilos. O co­ração humano bate cerca de 70 vezes por minuto e cada pulsação desloca 44 gramas de sangue, que somadas por 24 horas dá um total de 5.850 quilos diários. Toda a massa do sangue passa pelo coração em apenas três minutos. Os pul­mões do homem contém, normalmente, 5 litros de ar. O homem respira 1.200 vezes por hora, gastando 306 litros de ar. O corpo humano possui 13 elementos, sendo 8 sólidos e 5 gasosos.

Um homem pesando cerca de 76 quilos é constituído de 44 quilos de oxigênio, 7 de hidrogênio, 173 gramas de azoto, 600 gramas de cloro, 100 gramas de enxofre, o sufi­ciente para matar as pulgas de três cães de tamanho mé­dio; 1.700 gramas de cálcio, 800 gramas de potássio, 50 gra­mas de ferro, o bastante para fazer 5 pregos travessais; gor­dura suficiente para sete barras de sabão, açúcar suficien­te para 7 xícaras de chá, fósforo suficiente para fazer 2.000 palitos, magnésio suficiente para uma dose de sais, cal o bastante para pintar vinte metros de parede.Mas o homem é muito mais que um amontoado de agentes químicos. Ele é muito mais que carne e osso. O ho­mem é um ser espiritual, pois Deus o fez alma vivente (Gn 2.7).Ele é não só um ser transitório, isto é, de existência física limitada. O homem é um ser que Deus ao criá-lo, destinou-o à eternidade.

2. O Espírito do Homem

Em geral os escritores bíblicos, especialmente os do Antigo Testamento, não se preocuparam em distinguir o espírito da alma ou vice-versa. A distinção entre espírito e alma, hoje conhecida, é decorrente da revelação progressi­va de Deus no Novo Testamento.

a) O Espírito Humano é Obra do Criador

Números 15.22 e 27.16 dizem que Deus é o Criador do espírito humano, e que Deus o fez de forma individual. Ele está na parte interior da natureza do homem, e é capaz de renovação e de desenvolvimento. O espírito é a sede da imagem de Deus no homem, imagem perdida com a que­da, mas que pode ser reestabelecida por Jesus Cristo (Cl 3.10; 1 Co 15.49; 2 Co 3.18). O espírito é âmago e a fonte da vida humana, enquan­to que a alma possui essa vida e lhe dá expressão por meio do corpo. Assim o espírito é a alma encarnada, ou um espí­rito humano que recebe expressão mediante o corpo. A alma sobrevive à morte porque o espírito a dota de capaci­dade; por isso a alma e o espírito são inseparáveis.

b) O Espírito Distingue o Homem

O espírito humano distingue o homem das demais coi­sas criadas. Por exemplo, os irracionais possuem vida co­mum (Gn 1.20), mas não possuem espírito como o homem tem.O espírito é canal através do qual o homem pode co­nhecer a Deus e as coisas inerentes ao seu domínio (1 Co 2.11; 14.2; Ef 1.17; 4.23). O espírito do homem quando se torna morada do Espírito Santo, torna-se centro de adoração, de oração, cântico, bênção e de serviço (Jo 4.23,24; 1 Co 14.15; Rm 1.9; Fp 1.27).

c) O Espírito Identifica a Natureza do Homem

O espírito humano, representando a natureza supre­ma do homem, rege a qualidade de seu caráter. Por exem­plo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um “espírito altivo”(Pv 16.18). Conforme as influências respectivas que o dominem, o homem pode ter um espírito perverso (Is 19.14),rebelde (Sl 106.33), impaciente (Pv 14.29),perturbado (Gn 41.8), contrito e humilde (Is 57.15; Mt 5.3),de escravidão (Rm 8.15), de inveja (Nm 5.14). Assim é que o homem deve guardar o seu espírito (Pv 3.23), dominar o seu espírito (Ez 18.31), e confiar em Deus para transformar o seu espírito (Ez 11.19). Quando as paixões más dominam a alma da pessoa, o espírito é destronado. Isto é, o homem torna-se vítima dos seus maus sentimentos e apetites naturais. A este homem a Bíblia chama de “carnal”. O espírito já não domina mais, e essa condição é descrita na Bíblia como um estado de morte. Desse modo há necessidade de um espírito no­vo (Ez 18.31; Sl 51.10). Somente Deus, que originalmente deu vida ao ho­mem, poderá soprar novamente na alma do homem, in­fluindo nova vida espiritual nela. A este ato a Bíblia cha­ma “regeneração” (Jo 3.8; 20.22).Quando assim acontece, o espírito do homem nova­mente ocupa lugar de destaque em busca da perfeição es­tabelecida por Deus, e o homem chega a ser “espiritual”.

3. A alma do Homem

A filosofia grega dedicou muita atenção ao problema da alma, conseguindo com isso exercer grande influência na teologia e no pensamento cristão. A Natureza, a origem e a continuada existência da alma fizeram-se tema de discussão em todos os círculos filosóficos de então. Platão, por exemplo, cria na preexistência e transmigração da alma.

a) Que é a alma?

A alma é uma entidade espiritual, incorpórea, que pode existir dentro do corpo ou fora dele. A alma é um espírito que habita um corpo, ou nele tem estado, como as almas dos que tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo (Ap 6.9). Os teólogos apresentam duas ideias acerca da alma, e consequentemente a respeito da natureza do homem e dos animais. São elas a interpretação tricotomista e a interpre­tação dicotomista.

b) A Interpretação Tricotomista

Segundo a interpretação tricotomista o homem com­põe-se de três partes, ou elementos essenciais, que vêm a ser o espírito, a alma e o corpo (1 Ts 5.23). O corpo é a matéria da sua constituição; a alma, em hebraico nephesh e em grego psyche, é o princípio da vida animal que o homem possui em comum com os irracionais. A ela pertencem o entendimen­to, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte. O espírito, em hebraico ruah e em grego pneuma,é o princípio do homem racional e da vida imortal. Possui ra­zão, vontade e consciência, e se estende à eternidade após a morte do corpo.

c) A Interpretação Dicotomista

De acordo com a interpretação dicotomista, existem apenas dois elementos essenciais na constituição do ho­mem: o corpo, formado do pó, e a alma, que é o princípio da vida tanto humana como animal. Contém ela duas substâncias: uma é a alma que sente e recorda, e a outra é o espírito que tem consciência e possui o conhecimento de Deus. Os dicotomistas assemelham a vida do homem à do bruto, diferindo a do homem apenas por ser de ordem su­perior. Assim sendo, o espírito não é uma entidade distinta da alma, mas um aspecto ou desdobramento desta.

d) O Que a Bíblia Ensina Sobre o Assunto

Em geral os escritores bíblicos, de uma forma especial os do Antigo Testamento, não fazem distinção precisa en­tre psyche,alma animal, que é a parte inferior do ser hu­mano, e pneuma, espírito ou alma racional, parte superior do homem. Por isso é comum o uso de ambos os vocábulos como designando uma mesma coisa. Ordinariamente, os escritores sagrados referem-se ao homem como sendo um composto de corpo e alma, ou corpo e espírito, e não de cor­po, alma e espírito, a não ser no Novo Testamento (1 Co 5.44; 1 Ts 5.23 e Hb 4.12). Escreve Scofield: “Sendo o homem ‘espírito’, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo ‘alma’, ele tem conhecimento de si próprio; sendo ‘corpo’, tem através dos sentidos, conhecimento do mundo”. O corpo é tabernáculo da alma, a alma a sede da personali­dade, e o espírito o canal de comunhão com Deus.

4. O Corpo do Homem

Das três entidades que formam o homem, o corpo é aquele sobre o qual a Bíblia menos fala. Sabemos, porém que o corpo humano é o instrumento, o tabernáculo, a ofi­cina do espírito, a bainha da alma. Ele é o meio pelo qual o espírito se manifesta e age no mundo visível e material. Pelo corpo o homem pode ver, sentir e apalpar o que está ao seu redor.As impressões vêm do exterior pelo corpo, porém elas só têm significação quando reconhecidas e atendidas pelo espírito. A consciência própria, a direção própria, o poder de pensar, querer e amar, pertencem exclusivamente ao espírito. Diante disto se entende que o espírito é o agente, enquanto que o corpo é a agência.

a) O Corpo do Homem na Bíblia

A Bíblia registra alguns nomes para designar o corpo humano, quanto a transitoriedade de sua existência e posi­ção que ocupa no plano eterno de Deus. A Bíblia o chama “casa”, “tabernáculo” e “templo” (2 Co 5.1-4; 1 Co 6.19). Os filósofos pagâos falavam do corpo com desprezo, e consideravam-no um empecilho ao aperfeiçoamento da alma, pelo que almejavam o dia quando a alma estaria livre de suas complicações e enredosas roupagens. Porém as Es­crituras, em toda parte tratam o corpo do homem como obra de Deus, que deverá ser apresentado a Deus (Rm 12.1), e que deve ser usado para a glória de Deus (1 Co 6.20). – Por que, por exemplo, contêm o livro de Levítico tantas leis governando a vida física dos israelitas? – Para ensiná-los que o corpo, como instrumento da alma e do espírito, deve conservar-se forte e santo. Evidentemente o corpo é terreno (1 Co 15.47), e como tal, um cor­po de humilhação (Fp 3.21), sujeito a enfermidades e à morte (1 Co 15.53), de maneira que gememos por um corpo celestial (2 Co 5.2). Mas, na vinda de Cristo, o mesmo poder que vivificou a alma, transformará o corpo, completando assim a redenção do ho­mem. E a garantia de que essa mudança acontecerá é o Espírito que nele habita (1 Co 5.5; Rm 8.11).

b) A Glória Futura do Corpo

A crença na ressurreição do corpo como meio de sua glorificação é tão antiga quanto a crença em Deus no Anti­go Testamento. Já no livro de Jó (segundo alguns estudio­sos, o mais antigo livro da Bíblia) encontramos o patriarca dizendo: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros” (Jó 19.25-27).

Ensina o apóstolo Paulo que, mediante a ressurreição do corpo: a) a morte será destruída; b) receberemos um corpo celestial e glorioso; c) receberemos um corpo não mais sujeito a corrupção; d) ressuscitaremos em poder; e) traremos a imagem do celestial; f) seremos revestidos da imortalidade (1 Co 15.26,40,42,43,49,53). Ainda na expectativa da ressurreição, escreveu o apóstolo João: “Amado, agora somos filhos de Deus, e ain­da não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, por­que havemos de vê-lo como ele é” (1 Jo 3.2).

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