A Origem Do Homem - I » Tifsa Brasil

A Origem do Homem – I

Introdução

O fundamento e a razão de ser da religião cristã apoia-se numa relação vital entre duas pessoas: Deus e o homem. Portanto, para que a teologia seja fiel à sua proposição e significado, deve prender-se não só ao estudo da revelação de Deus, mas também do homem. É necessário conhecermos suficientemente o homem para não cairmos em erros irreparáveis na abordagem da doutrina bíblica. Um erro da nossa parte quanto à origem, propósito da existência e futuro do homem dificultará a nossa compreensão do propósito de Deus para com a hu­manidade total. Convém, pois, estudar e conhecer o ho­mem na sua constituição e posição dentro do propósito de Deus no tempo e na eternidade.

A Bíblia nos apresenta um duplo relato da origem do homem, harmônicos entre si, o primeiro no capítulo 1, versículos 26 e 27, e o outro no capítulo 2, versículo 7 do li­vro de Gênesis. Partindo destes textos e de todo o contexto que trata da obra da criação, quanto à criação do homem, o estudante das Escrituras, inevitavelmente chegará às se­guintes conclusões:

1. A Criação do Homem foi Precedida por um Solene Conselho Divino

Antes de Moisés tratar da criação do homem com maiores detalhes, ele nos leva a conhecer o decreto de Deus quanto à essa criação, nas seguintes palavras: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). A Igreja geralmente tem interpretado o verbo “faça­mos”, no plural, para provar a autenticidade da doutrina da Trindade.

Alguns eruditos, porém, são da opinião que esta palavra expressa o plural de majestade; outros a to­mam como plural de comunicação, no qual Deus inclui os anjos em diálogo com Ele; todavia, outros a consideram como plural de auto-exortação. Tem-se verificado, porém, que estas três últimas afirmações são contrárias àquilo que pensam e interpretam os pensadores e teólogos mais con­servadores, os quais, como a Igreja, crêem que o plural “fa­çamos” é uma alusão direta à Trindade divina entrando em conselho para a formação do homem.

2. A Criação do Homem Resultou dum Ato Imediato de Deus

Algumas das expressões usadas no relato da criação do homem mostram que ela aconteceu de uma forma ime­diata, ao contrário do que aconteceu na criação dos demais seres e coisas da criação em geral. Por exemplo, note as ex­pressões: “E disse [Deus]: Produza a terra relva, ervas que dêem semente, e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra” (Gn 1.11)”Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus” (Gn 1.20) Compare estas declarações com a que se segue: “Criou Deus, pois, o homem…”(Gn 1.27). Qualquer indício de mediação na obra da criação, que se acha contido nas declarações de Gênesis 1.11,20, refe­rentes à criação das aves dos céus e dos seres marinhos, inexiste na declaração da criação do homem em Gênesis 1.27. Isto é, Deus planejou a criação do homem, e imedia­tamente a levou a efeito.

3. O Homem foi Criado Segundo um Tipo Divino

Com respeito aos demais seres vivos, tais como os pei­xes, as aves, as bestas da terra e dos mares, lemos que Deus os criou “segundo a sua espécie”. Isto quer dizer que eles possuem formas tipicamente próprias de suas espé­cies. O homem não foi criado assim, e muito menos confor­me o tipo das criaturas inferiores. Com respeito a ele, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Assim, em todo o relato bíblico, o ho­mem surge como um ser que recebeu de Deus cuidados es­peciais na sua criação, no princípio.

4. Os Elementos da Natureza Humana se Distinguem

Em Gênesis 2.7 vemos a distinção clara entre a origem do corpo e da alma. O corpo foi formado do pó da terra, material preexistente. Na criação da alma, no entanto, não foi necessário o uso de material preexistente, mas sim a formação duma nova substância. Isto quer dizer que a alma do homem foi uma nova criação de Deus. A Bíblia diz que o Senhor Deus soprou nas narinas do homem “o fô­lego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7). Mui­tas outras passagens das Escrituras falam dos diferentes elementos formadores da natureza humana (Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 8.55; 2 Co 5.1-8; Fp 1.22-24; Hb 12.9).

5. O Homem foi Feito Coroa da Criação

O homem é apresentado na Escritura como ponto cul­minante da obra da criação de Deus. Criado o homem, a criação estava coroada. Veja, por exemplo, o que os seguin­tes textos dizem sobre o assunto:”Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre a aves dos céus, sobre os ani­mais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. …enchei a terra e sujeitai-a; do­minai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn 1.26,28). Quanto à glória do homem e o seu governo sob as de­mais obras de Deus, canta o salmista: “Fizeste-o, no en­tanto, por um pouco, menor do que Deus, e de glória e de honra o coroaste… Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão, e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares” (Sl 8.5,8). Como tal, foi dever do homem fazer com que toda a natureza e todas as demais criaturas, colocadas sob seu go­verno, servissem á sua vontade e ao seu propósito, para que ele e todo o seu glorioso domínio glorificassem ao Todo-poderoso Criador e Senhor do Universo.

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