A Pessoa de Jesus Cristo - I » Tifsa Brasil

A Pessoa de Jesus Cristo – I

O estudo da pessoa de Jesus Cristo se reveste de gran­de importância, decorrente da sua ligação com o cristianis­mo, e com a vida de todos quantos nele creem e esperam. Neste ponto Cristo se distingue dos fundadores das gran­des religiões conhecidas no mundo de hoje. Não há ne­nhum grau de comparação entre Cristo e Confúcio, Maomé, e Buda. O confucionismo poderá existir sem Confúcio, o maometismo sem Maomé, e o budismo sem Buda. Po­rém, cristianismo sem Cristo é inconcebível. O cristianis­mo é Cristo e Cristo é o cristianismo. O cristianismo não é, primeiramente, uma religião. Antes de qualquer outra coi­sa, cristianismo é um modo de vida, a vida de Jesus posta em ação através da vida dos santos. Cristianismo é “Cristo em vós, a esperança da glória” (Teologia Elementar – Imprensa Batista – Pág. 87).

Aqueles que o amam e o servem, conhecem-no pelo nome, como é mostrado a seguir.

1. Sobre Jesus

O nome Jesus é a forma grega do nome hebraico “Jehoshua” (Josué), (Js 1.1; Zc 3.1) do qual a forma regular nos livros históricos pós-exílicos é “Jeshua” (Jesus) (Ed 2.2). O nome parece derivar do termo hebraico “salvar”, o que está inteiramen­te de acordo com a interpretação dada pelo anjo em Ma­teus 1.21: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”.Este nome foi usado por dois conhecidos personagens, tipos de Jesus no Antigo Testamento. Um deles foi Josué, filho de Num e servidor de Moisés, prefigurando Cristo como o grande General e Líder real, dando a seu povo a vitória sobre os seus inimigos, conduzindo-os à Terra Prome­tida. O outro é Josué, o filho de Jeozedaque, que tipifica o Cristo como sendo o grande sumo sacerdote levando os pe­cados do seu povo (Zc 3.1).

2. Sobre o Cristo

O nome “Cristo” é o equivalente neo-testamentário de “Messias”, do Antigo Testamento, e significa “ungido”. Reis e sacerdotes foram regularmente ungidos durante a velha dispensação (Ex 29.7; Lv 4.3; Jz 9.8; 1 Sm 9.16; 10.1; 2 Sm 19.10). O Rei em Israel é chamado o “ungido de Jeová” (1 Sm 24.6). O conceito de “Messias” ou “ungido”, inclui três im­portantes elementos: a) a designação para um ofício es­pecífico; b) o estabelecimento de uma relação sagrada en­tre o ungido e Deus; e c) a comunicação do Espírito de Deus ao que tomou posse do ofício (1 Sm 16.13). Cristo foi indicado ou designado para o seu ofício desde a eternidade, mas, histo­ricamente, sua unção se consumou quando foi concebido pelo Espírito Santo (Lc 1.35), e quando recebeu o Espírito, princi­palmente por ocasião de seu batismo (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32; 3.34).Isto serviu para qualificá-lo para a sua grande comissão.

3. Sobre o  Filho do Homem

É geralmente admitido que o nome Filho do homem quando aplicado a Cristo, se deriva de Daniel 7.13. O nome “Filho do homem” era uma auto-designação mais comumente usada por Jesus. Ele o usou em mais de quarenta ocasiões, enquanto que outras pessoas quase nunca o em­pregavam em relação a Cristo, sendo as únicas excessões as indicadas em João 12.34; Atos 7.56 e Apocalipse 1.13; 14.14. O nome é, por certo, expressivo à humanidade de Cristo, e é usado, às vezes, em passagens em que Jesus fala de seus sofrimentos e da sua morte; mas é também clara­mente sugestivo da singularidade de Jesus, de seu caráter sobre-humano e de sua vinda futura com as nuvens do céu em glória celeste (Mt 16.27,28; Mc 8.38; Jo 3.13,14; 6.27; 8.28). Alguns estudiosos da Bíblia são da opi­nião de que Jesus dava especial preferência a este nome porque era pouco assimilável pelos judeus, e serviria muito bem para ocultar a sua missão messiânica. É mais provável, porém, que Ele o preferiu porque não continha nenhu­ma sugestão das interpretações errôneas do Messias, inter­pretações correntes entre os judeus.

4. Sobre o Filho de Deus

O nome “Filho de Deus” é usado variadamente no An­tigo Testamento. Aplica-se a Israel como nação (Ex 4.22; Os 11.1); ao rei prometido da casa de Davi (2 Sm 7.14; Sl 89.27); aos anjos (Jó 1.6; 38.7; Sl 29.1);e às pessoas pie­dosas em geral (Gn 6.2; Sl 73.15; Pv 14.26). No Novo Testamento Jesus apropria-se do nome, e os seus discípulos e até os demônios ocasional­mente lhe atribuíram esse nome ou o trataram por ele. O nome, quando aplicado a Cristo, tem sentido diversifica­do. Por exemplo:

a) No Sentido Natalício

Serve para designar que a natureza humana de Cristo teve sua origem na direta atividade sobrenatural de Deus, e, mais particularmente, do Espírito Santo. Em Lucas 1.35, o nome “Filho de Deus” claramente indica este fato.

b) No Sentido Oficial ou Messiânico

Neste caso, o tratamento “Filho de Deus” descreve mais o ofício do que a natureza de Cristo. O Messias é fre­qüentemente chamado o Filho de Deus, como seu herdeiro e representante. Os demônios evidentemente assim usa­ram esse nome (Mt 8.29; 24.36; Mc 13.32).

c) No Sentido Trinitário

Aqui o nome “Filho de Deus”, serve para designar o Cristo como a segunda pessoa da Trindade augusta. É o sentido mais profundo em que se usa o nome. Jesus mes­mo, invariavelmente, emprega o nome nesse sentido es­pecífico (Mt 11.27; 14.28-33; 16.16; 21.33-46; 22.41-46; 26.63).

5. Senhor

O nome “Senhor”, quando aplicado a Cristo no Novo Testamento, tem diversos sentidos. Em certos casos é usa­do simplesmente como forma de tratamento cortês e de respeito (Mt 8.2; 20.33). Em tais casos significa pouco mais do que a palavra “Senhor” que se usa com frequência no tratamento entre os homens. Noutros casos é expressivo de domínio e autoridade, sem indicar algo quanto ao caráter divino de Cristo e sua autoridade em assuntos espirituais e eternos (Mt 21.3; 24.42). Finalmente, o nome “Senhor” é expressivo do caráter de Cristo e sua suprema autoridade espiritual, e é quase equivalente ao nome de Deus (Mc 12.36,37; Lc 2.11; 3.4; At 2.36; 1 Co 12.3; Fp 2.11). É especialmente depois da ressurreição que se aplica de forma plena e apropriada este nome a Cristo, indicando que Ele é o dono e governante da Igreja (Manoel de Doutrina Cristã – Co-edição Luz para o Caminho e Ceibel – Págs. 159-162).

II. Heresias Sobre a Pessoa de De Jesus

Um dos pontos relevantes da doutrina Cristológica, consiste da afirmação, segundo a qual Jesus Cristo possui dupla natureza, o que o faz cem por cento Deus e cem por cento homem. Apesar disto, não poucas vozes, ao longo dos séculos, se têm levantado contra esta verdade. Dentre os movimentos que no decorrer da história da Igreja se insur­giram contra a doutrina das duas naturezas de Cristo, se destacam os seguintes:

1. O Gnosticismo

O gnosticismo compreende a fusão de elementos cul­turais colhidos de diversos gêneros ou opiniões, até mesmo antagônicas, filosófico-religiosas. Surgiu no I Século da nossa Era. Visa conciliar todas as religiões e explicar o sen­tido mais profundo da “gnose”. Sendo notadamente sincretista, o gnosticismo viu no cristianismo muitos elemen­tos de que podia lançar mão e usar da maneira como bem lhe parecesse.O gnosticismo se dividia em quatro classes distintas: sírio, egípcio, judaizante, e pôntico. Independentemente de classe, quanto à pessoa de Cristo, o gnosticismo procu­rava explicá-lo em termos filosófico-pagãos, ou da “teosofia”.O gnosticismo de tipo sírio encontrou em Saturnino o seu principal arauto. Ele ensinava que há um Pai absolu­tamente desconhecido que fez anjos, arcanjos, virtudes e potestades; o mundo, porém, e tudo quanto nele existe, foi feito por anjos em número de sete…O Salvador, conforme Saturnino, não nasceu, não teve corpo nem forma, mas foi visto em forma humana apenas em aparência. O Deus dos judeus, segundo ele, era um dos sete anjos; visto que todos os principados quiseram destruir seu Pai, Cristo veio para aniquilar o Deus dos ju­deus e para salvar os que nele acreditassem. Esses são os que possuem uma fagulha da vida de Cristo. Saturnino foi o primeiro a afirmar a existência de duas estirpes de ho­mens formados pelos anjos: uma de bons e outra de maus. Sendo que os demônios davam seu apoio aos maus, o Sal­vador veio para destruir os demônios e os perversos, sal­vando os bons. Mais ainda, segundo Saturnino, casar-se e procriar filhos é obra de Satanás (Documentos da Igreja Cristã -Juerp – Pág. 68).

O gnosticismo tomou de empréstimo certos elementos do cristianismo e os introduziu em seu conceito geral de salvação. Cristo, por exemplo, era considerado pelos gnósticos como salvador, visto que dizem ter sido ele quem trouxe o conhecimento salvífico ao mundo. Mas este não é o Cristo da Bíblia; o Cristo do gnosticismo era uma essên­cia espiritual que emanara dos eons. Este Cristo não podia ter assumido a forma de homem. Quando apareceu sobre a terra, diziam os gnósticos, só parecia ter corpo físico. Ao mesmo tempo, os gnósticos também ensinavam que este Cristo não sofreu e morreu. O gnosticismo, em outras palavras, proclamava uma Cristologia docética.Face o perigo do ensino gnóstico para a integridade da doutrina Cristológica, Irineu afirmou que os gnósticos nun­ca receberam os dos do Espírito Santo e que desprezavam os profetas.

2. Sobre o Docetismo

O docetismo afirmava que o corpo de Cristo não pas­sava de um fantasma; que seus sofrimentos e morte eram meras aparências. Deste modo pontificavam os apóstolos do docetismo: “Ou [Cristo] sofria e então não podia ser Deus; ou era verdadeiramente Deus e então não podia sofrer.”O docetismo assumiu várias formas: ou negava a ver­dadeira humanidade de Cristo empregando teorias sobre corpo fantasmagórico, ou então escolhia certos aspectos da vida terrena de Cristo, como sendo potencialmente verídi­cos, enquanto negava o restante dos relatos bíblicos atra­vés de suas explicações. Estava em frontal oposição à de­claração joanina: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo não veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo…”(1 Jo 4.2,3). Cerinto, habitante da Ásia Menor, defendia a opinião de que Jesus fora unido a Cristo, o Filho de Deus, por ocasião do seu batismo, e que Cristo abandonou o Je­sus terreno antes da crucificação. Acreditava que o sofri­mento e a morte de Jesus eram incompatíveis com a divin­dade de Cristo. Outra teoria docética, associada a Basílides, sugeria que ocorreu um engano, que Simão, o Cirineu, fora crucificado em lugar de Cristo, escapando Jesus, desse modo, da morte na cruz (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág18).

Contra as heresias do docetismo, além do apóstolo João, se levantou Irineu, um dos líderes da Igreja antiga. Quanto ao docetismo, aos crentes seus contemporâneos, escreveu ele:”Torna-te surdo quando te falam de um Jesus Cristo fora daquele que foi da família de Davi, filho de Maria, nasceu autenticamente, comeu e bebeu, padeceu verda­deiramente sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado e morreu verdadeiramente… De que me valeria estar em ca­deias, se Cristo sofreu somente na aparência, como certos pretendem? Esses, sim, não passam de meras aparên­cias” (Documentos da Igreja Cristã – Juerp – Pág.68).

3. Sobre o Monarquianismo

O Monarquianismo negava basicamente o conceito trinitário da divindade. Sustentava que a doutrina da Trindade se opunha à fé no Deus único. Seus adeptos re­pudiavam a idéia da “economia”, segundo a qual Deus, que certamente é um, rebelou-se de tal maneira que apareceu como Filho e como Espírito Santo. O monarquianismo se manifestou de duas formas: Dinamista e Modalismo.

a) Sobre o Monarquianismo Dinamista

O primeiro defensor desta forma de monarquianismo foi o curtidor Teodoto, que chegou a Roma vindo de Bizâncio no ano 190, como resultado de uma perseguição. Era hostil à cristologia do Logos e, em geral, negava a divinda­de de Cristo. Em vez disso, acreditava ser Cristo mero ho­mem. Nasceu duma virgem, mas apesar disso não passava dum mero homem. Era superior aos demais homens ape­nas com respeito à sua justiça. Mais especificamente, Teo­doto concebeu a relação entre Cristo e o homem Jesus do seguinte modo. Jesus vivera como os demais homens; por ocasião de seu batismo, contudo, Cristo veio sobre ele como um poder que estava ativo dentro dele a partir de en­tão… Considerava-se Jesus um profeta que não se tornou Deus, embora estivesse equipado com poderes divinos por algum tempo. Só se uniu a Deus depois de sua ressurreição (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág. 58).

b) Sobre o Monarquianismo Modalista

A história responsabiliza Noeto e seus discípulos como divulgadores dessa forma de monarquinismo. Noeto rejei­tava a doutrina da Trindade divina, inclusive a cristologia do Logos e as tendências subordinacionistas implícitas ne­la. Para Noeto, apenas o Pai é Deus, e embora esteja oculto à vista dos homens, manifestou-se e se fez conhecer segun­do o seu beneplácito. Deus não está sujeito a sofrimento e morte, mas pode sofrer e morrer se ele assim o quiser. Ao dizer isto, Noeto procurou ressaltar a unidade de Deus. O Pai e o Filho não são apenas da mesma essência; são tam­bém o mesmo Deus sob nome e forma diferentes. Noeto ne­gou-se a diferenciar entre as três pessoas da Divindade. Como ele entendia o problema, podia-se dizer tão bem que o Pai sofreu como dizer que Cristo sofreu.

4. Sobre o Sabelianismo

O sabelianismo, um movimento religioso organizado por Sabélio, cerca do ano 375, confundia a pessoa de Cristo apenas com uma faceta ou manifestação de Deus. Ensina­va que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só e a mes­ma essência, três nomes apenas dados a uma só e mesma substância. Propõe uma analogia perfeita tomada do cor­po, da alma e do espírito do homem. O corpo seria o Pai, a alma seria o Filho, enquanto o Espírito Santo seria para com a divindade o que o espírito é para com o homem. Ou tome-se o Sol: o Sol é uma só substância, mas com Tríplice manifestação: luz, calor e globo solar. O calor… é (análogo a) o Espírito; a luz, ao Filho; enquanto o Pai é representa­do pela verdadeira substância. Em certo momento, o Filho foi emitido como um raio de luz; cumpriu no mundo tudo o que cabia à dispensação do Evangelho e à salvação dos ho­mens, e retirou-se para os céus, semelhantemente ao raio enviado pelo sol que é novamente incorporado a ele. O Espírito Santo é enviado mais sigilosamente ao mundo e, sucessivamente, aos indivíduos dignos de o receberem (Documentos da Igreja Cristã – Juerp – Pág. 71). Atribui-se a Sabélio a frase: “Deus, com respeito à hipóstase é um, mas foi personificado na Escritura de várias maneiras segundo a necessidade do momento” (História da Teologia – Concórdia S/A – Pág. 59).

5. Sobre o Arianismo

Ário, presbítero em Alexandria por volta do ano 310, estabeleceu a sua doutrina cristológica partindo de um conceito filosófico de Deus. Segundo ensinava, não era possível a Deus conferir sua essência a qualquer outro, em virtude do fato de ser uno e indivisível. Não se podia con­ceber que o Logos ou o Filho pudesse ter chegado a existir a não ser por um ato de criação. Desse modo, na opinião de Ário, Cristo não podia ser Deus no sentido pleno do termo; devia, em vez disso, fazer parte da criação. Como resulta­do, Ário considerava Cristo como “ser intermediário”, me­nos do que Deus e mais do que o homem. Também dizia ser Cristo criatura, tendo sido criado ou no tempo ou antes do tempo. Ário, portanto, negava a preexistência do Filho em toda a eternidade, e lhe conferia atributos divinos ape­nas em sentido honorífico, baseado na graça especial que Cristo recebera e na justiça que manifestou.

Em suma, o arianismo ensina que “o Filho não existiu sempre, pois quando todas as coisas emergiram do nada e todas as essências criadas chegaram a existir, foi então que também o Logos de Deus procedeu do nada. Houve um tempo em que ele não era, e não existiu até ser produzido, pois mesmo ele teve um princípio, quando foi criado. Pois Deus estava só, e naquele tempo não havia nem Logos nem Sabedoria. Quando Deus decidiu-se criar-nos, produziu, em primeiro lugar, alguém que denominou Logos e Sabe­doria e Filho, e nós fomos criados por meio dele”. O arianismo encontrou em Atanásio o seu mais corajo­so oponente. Ao seu tempo escreveu Atanásio: “A verdade revela que o Logos não é uma das coisas criadas; ao invés disso, é seu Criador. Pois ele tomou sobre si o corpo criado de homem, para que ele, tal como Criador, pudesse reno­var este corpo e deificá-lo em si mesmo, de modo que o ho­mem, em virtude da força de sua identificação com Cristo, pudesse entrar no reino do céu. Mas o homem, que é parte da criação, jamais poderia tornar-se como Deus se o Filho não fosse verdadeiramente Deus… Igualmente, o homem não poderia ter sido libertado do pecado e da condenação se o Logos não tivesse tomado sobre si nossa carne natural, humana. Nem poderia o homem ter-se tornado como Deus se o Verbo, que se tornou carne, não tiyesse vindo do Pai -se não fosse seu próprio Verbo verdadeiro”.

6. Sobre o  Apolinarianismo

Apolinário (apareceu em cena pela metade do IV sé­culo), teve dificuldade em aceitar a idéia de divindade de Jesus Cristo, como sendo ele da mesma substância do Pai. O principal problema, como ele o via, era este: Como pode o homem conceber a existência humana de Cristo? Segun­do Apolinário, a natureza humana de Cristo tinha de pos­suir qualidade divina. Não fosse esse o caso, a vida e a morte de Cristo não poderiam ter conquistado a salvação dos homens. Parece, pois, que Apolinário ensinava o se­guinte: Deus em Cristo foi transmutado em carne, e esta carne foi então transmutada pela natureza divina. De acordo com esse ponto de vista, Cristo não recebeu sua na­tureza humana e sua carne, da Virgem Maria: antes, trou­xe consigo do Céu uma espécie de carne celestial. O ventre de Maria simplesmente teria servido de local de passagem.Apolinário, portanto, acreditava que Cristo tinha ape­nas uma natureza e uma hipóstase. Essa natureza é a do Logos, que em Cristo foi transmutada em carne. Esta, por sua vez, assumiu a qualidade divina ao mesmo tempo. Apolinário combatia vigorosamente a idéia segundo a qual os elementos divino e humano se combinam em Cristo, que ‘o Logos simplesmente se revestiu da natureza humana e li­gou-se a ela de modo espiritual.É óbvio que Apolinário enfatizava a divindade de Cristo a ponto de perder de vista sua verdadeira humani­dade. Cristo, segundo Apolinário, não possuía alma huma­na. Ele só tem uma natureza, a natureza encarnada do Lo­gos divino. A teologia cristológica de Apolinário tem o ranso do velho modalismo com fortes traços docéticos. O apolinarianismo sofreu forte oposição de Diodoro de Tarso, Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto e João Crisóstomo.

7. Sobre o Nestorianismo

O nestorianismo deve a sua existência à pessoa de Nestório, bispo em Constantinopla no período 428-431. Nestório parece atribuir o seu discipulado a Teodoro de Mopsuéstia que ilustrava a união das duas naturezas de Cristo com a união conjugai de marido e mulher tornados uma só carne sem deixarem de ser duas pessoas e duas na­turezas separadas. Em vez de união, ele dizia conjugação, termo que representa perfeitamente a opinião nestoriana e justifica sua inadmissibilidade.Cirilo conseguiu a condenação de Nestório no Sínodo romano de agosto de 430, ratificada no Sínodo de Alexan­dria. Cirilo enviou a Constantinopla uma carta extensa que expunha sua doutrina e terminava com doze anátemas, transcritos a seguir:

1.Se alguém não confessar que o Emanuel é verdadei­ro Deus e que, portanto, a Santa Virgem é Theotókos (Mãe de Deus), porquanto deu à luz, segundo a carne, ao Verbo de Deus feito carne, seja anátema.

2.Se alguém não confessar que o Verbo de Deus Pai estava unido pessoalmente [kath’hypóstasin] à carne, sen­do com ela propriamente um só Cristo, ou seja, um só e mesmo Deus e homem ao mesmo tempo, seja anátema.

3. Se, no único Cristo, alguém dividir as pessoas [hi­póstaseisj já unidas, unindo-as mediante uma simples união de acordo com o mérito, ou uma união efetuada através de autoridade e poder, e não propriamente uma união de natureza [kath’hénosin physíken], seja anátema.

4. Se alguém distingue entre dois caracteres [prósõpo] ou pessoas [hipóstaseis]… aplicando algumas apenas ao homem Jesus concebido separadamente do Verbo… outras apenas ao Verbo… seja anátema.

5. Se alguém presumir chamar Cristo de “homem por­tador de Deus” [theohóron ánthrôpon]… seja anátema.

6.Se alguém presumir chamar de Verbo a Deus ou Se­nhor de Cristo… seja anátema.

7 .Se alguém disser que Jesus, enquanto homem, era operado [enêrgêsthai] por Deus o Verbo, que a “glória do Ungido” lhe foi concedida como algo existente fora do Ver­bo… seja anátema.

8. Se alguém tentar afirmar que, “juntamente com o Verbo Divino, se deve co-adorar, co-glorificar, co-proclamar Deus ao homem assumido pelo Verbo, como se fosse estranho ao Verbo, – e a conjunção ‘com’ ou ‘co’, ne­cessariamente, indica tal assunção, – e que não se deve adorar com a mesma adoração, glorificar com a mesma glorificação ao Emanuel feito carne”, seja anátema.

9. Se alguém ensinar que o Senhor Jesus Cristo foi glorificado pelo Espírito Santo, como sé ele operasse um po­der estranho a si concedido mediante o Espírito Santo… seja anátema.

10.Se alguém não confessar que o Verbo de Deus so­freu na carne e foi crucificado na carne… seja anátema ((Documentos da Igreja Cristã – Juerp – Pág. 79/81). O Concilio de Éfeso, realizado em 431, aprovou esta carta contendo os doze anátemas de Cirilo.

8. Sobre o Eutiquianismo

Eutiques, abade de um mosteiro em Constantinopla, dizia que Cristo, depois de se tornar homem, tinha apenas uma natureza. Sua humanidade, contudo, não era da mes­ma essência que a nossa. Indagado por Flaviano e Florêncio, quanto à sua crença cristológica, Eutiques respondeu o seguinte:

Flaviano (Arcebispo de Constantinopla): Confessais que Cristo possui duas naturezas?

Eutiques:Nunca presumi especular acerca da nature­za de meu Deus, Senhor dos céus e da terra; admito que nunca confessei ser Ele consubstanciai conosco… A Vir­gem, sim, confesso que é consubstanciai conosco, e que dela se encarnou nosso Deus…

Florêncio:Sendo ela consubstanciai conosco, certa­mente também seu Filho, nos é consubstanciai?

Eutiques:Note, por obséquio, que não afirmei que o corpo de um homem passou a ser corpo de Deus, mas que este corpo foi humano e o Senhor encarnou-se da Virgem. Se desejais que acrescente que o seu corpo foi consubstan­ciai com os nossos corpos, assim fá-lo-ei, mas entendo a palavra consubstanciai de modo que não acarreta a nega­ção da filiação divina de Cristo. Sempre evitei terminante-mente a expressão “consubstanciai na carne”. Mas, sendo que Vossa Santidade mo pede, usá-lo-ei…

Florêncio:Admitis ou não que Nosso Senhor nascido da Virgem é consubstanciai (conosco) e perdoador, após a encarnação, de duas naturezas?

Eutiques:…Admito que Nosso Senhor teve duas na­turezas antes da encarnação e uma só depois dela… Sou discípulo, neste particular, do bem-aventurado Cirilo, dos santos padres e de Santo Atanásio; eles falaram de duas naturezas antes da união; depois da união e encarnação, apenas falam de uma natureza, não de duas.

Em novembro de ano 448, Eutiques foi condenado como heresiarca pelo Sínodo de Constantinopla.

9. A Definição Cristológica de Calcedônia

Numa tentativa de pôr fim às demandas Cristológica dos primeiros quinhentos anos da história da Igreja, o Concilio de Calcedônia, reunido em 451, firmou e aprovou o seguinte documento:”Fiéis aos santos padres, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mes­mo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, e perfeito quanto à humanidade, verdadeiramen­te Deus e verdadeiramente homem, constando de alma ra­cional e de corpo; consubstanciai [homooysios], segundo a divindade, e consubstanciai a nós, segundo a humanidade; ‘em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o peca­do’, gerado segundo a divindade, antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria…

“Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis; a distinção de na­tureza de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subs­tância [hipóstasis]; não dividido ou separado em duas pes­soas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Je­sus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu res­peito testemunharam, e o mesmo Cristo nos ensinou e o credo dos pais nos transmitiu”.

III. As Naturezas de Jesus Cristo

O problema real da cristologia se espelha nesta ques­tão: Como se relaciona a divindade de Cristo com sua hu­manidade? Como pode aquele que é verdadeiro Deus ser também verdadeiro homem ao mesmo tempo? Como pôde viver sob condições humanas e aparecer em forma huma­na? É, sem dúvida alguma grande este mistério: “Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, e re­cebido acima na glória” (1 Tm 3.16).

1. A Natureza Humana de Jesus Cristo

Jesus era o Filho do homem, conforme Ele mesmo se proclamou. É nessa condição que Ele se identifica com toda a raça humana.

Para ele convergem todas as linhas da nossa comum humanidade.”Ele era o ‘Filho do homem’ no sentido de ser o único que realiza tudo que está incluído na idéia do homem, na qualidade de segundo Adão, o cabeça e representante da raça – a única verdadeira e perfeita flor que já se desdobrou da raiz e do tronco da humanidade. Tomando para si esse título, Ele testifica contra pólos opostos de erro acerca de sua Pessoa: o pólo ebionita, que seria o resultado final do título ‘Filho de Davi’; e o pólo gnóstico, que nega­va a realidade da natureza humana que levava esse no­me” (Teologia Elementar – Imprensa Batista – Pág. 90,91). A humanidade de Jesus Cristo é demonstrada:

a) Pela sua ascendência humana (Gl 4.4; Mt 1.18; 2.11; 12.47; Jo 2.1; Hb 10.5; Rm 1.3; At 13.22,23; Lc 1.31-33; Mt 1.1).

b) Por seu crescimento e desenvolvimento naturais (Lc 2.40,46,52).

c) Por sua aparência pessoal (Jo 4.9).

d) Por possuir natureza humana completa, inclusive corpo, alma e espírito (Mt 26.12,38; Lc 23.46).

e) Pelas suas limitações humanas, sem pecado, evi­dentemente. Deste modo Ele estava sujeito à fadiga corporal, à necessidade de sono, à fome, à sede, ao sofrimento e à dor física. Tinha capacidade para morrer. Tinha limitações intelectuais. Tinha capa­cidade para crescer em conhecimento, e de adquirir conhecimento mediante observação (Jo 4.6; Mt 8.24; 21.18; Jo 19.28; Lc 22.44; 1 Co 15.3; Lc 2.52; Mc 11.13; 13.32; 1.35; At 10.38).

2. A Natureza Divina de Jesus Cristo

“As dimensões do cristianismo melhor se medem pe­las dimensões da Pessoa que o fundou elimita seu horizon­te. Da realidade da sua divindade dependem todas as de­mais realidades do cristianismo, e isso por toda a eternida­de” – Champion.Ao mesmo tempo que Jesus Cristo era verdadeiro ho­mem, também era verdadeiro Deus. Disse Napoleão ao conde de Montholon: “Penso que compreendo um pouco da natureza humana, e digo-te que todos esses heróis da antigüidade foram homens, como eu o sou, mas não como Jesus Cristo: Este era mais que homem” (Teologia Elementar – Imprensa Batista – Pág. 106).

As Escrituras Sagradas afirmam peremptória e categoricamente que:

a) Sobre o Cristo de Deus

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Outras passagens das Escrituras corroboram com a Divindade de Jesus Cristo, como seja: João 10.30,33,38; 14.9,11; 20.28; Romanos 9.5; Colossenses 1.25; 2.9; Filipenses 2.6; Hebreus 1.3; 2 Coríntios 5.19; 1 Pedro 1.2; 1 João 5.2; e Isaías 9.6.Muitas afirmações feitas no Antigo Testamento a res­peito de Jeová, são interpretadas e cumpridas no Novo Testamento, referindo-se à Pessoa de Jesus Cristo. Veja, por exemplo os casos seguintes:

Vaticínio Cumprimento

Isaías 40.3,4 ………………………………….Lucas 1.68,69,76

Êxodo 3.14 ………………………………….João 8.56-58

Jeremias 17.10 ………………………………….Apocalipse 2.23

Isaías 60.19 ………………………………….Lucas 2.32

Isaías 6.1…………………………………………………………………….João 12.37-41

Isaías 8.13,14………………………………………………………………1 Pedro 2.7,8

Números 21.6,7 ………………………………….1 Coríntios 10.9

Salmo 23.1 ………………………………….João 10.11; 1 Pedro 5.4

Ezequiel 34.11,12…………………………………………………………Mateus 4.10

b) Cristo é Todo-poderoso

“Toda autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18).”Eu sou o Alfa e o ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era, e que há de vir, o Todo-poderoso” (Ap 1.8).

c) Cristo é Eterno

“Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou” (Jo 8.58). O Evange­lho de João destaca este aspecto da divindade de Cristo nos seguintes textos: 1.18; 6.57; 8.19; 10.30,38; 14.7,9,10,20; 17.21,26.

d) Cristo é Criador

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez… Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu” (Jo 1.3,10).”Por­que nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam domina­ções, sejam principados, sejam potestades: tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1.16). “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profe­tas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro da sua glória, por quem fez também o mundo” (Hb 1.1,2).

3. Atributos da Divindade de Jesus Cristo

Atributos inerentes a Deus Pai, relacionam-se harmo­niosamente com Jesus Cristo, provando a sua divindade. Por isso a Bíblia o apresenta como:

O Primeiro e o Último(Is 41.4; Cl 1.15,18; Ap 1.17; 21.6).

O Senhor dos senhores (Ap 17.14).

Rei dos reis(Is 6.1-5; Jo 12.41; 1 Tm 6.15).

J u i z (Mt 16. 27; 25. 31,32; 2 Tm 4.1; At 17. 31).

Pastor(Sl 23.1; Jo 10.11,12).

Cabeça da Igreja(Ef 1.22).

Verdadeira Luz(Lc 1.78,79; Jo 1.4,9).

Fundamento da Igreja (Is 28.16; Mt 16.18).

Caminho(Jo 14.6; Hb 10.19,20).

A Vida(Jo 11.25; 1 Jo 5.11,12).

Perdoador de pecados(Sl 103.3; Mc 2.5; Lc 7.48,50).

Preservador de tudo(Hb 1.3; Cl 1.17).

Doador do Espírito Santo(Mt 3.11; At 1.5).

Onipresente (Ef 1.20-23).

Onipotente(Ap 1.8).

Onisciente (Jo 21.17).

Santificador(Hb 2.11).

Mestre (Lc 21.15; Gl 1.12).

Restaurador de si mesmo(Jo 2.19).

Inspirador dos profetas(1 Pd 1.17).

Supridor de ministros à Igreja(Ef 4.11).

Salvador(Tt 3.4-6).

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