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Questão 21 – Enem 2022

A escrava

Admira-me, disse uma senhora de sentimentos sinceramente abolicionistas ; faz-me até pasmar como se possa sentir, e expressar sentimentos escravocratas, no presente século, no século dezenove! A moral religiosa e a moral cívica aí se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra que envenena a família no mais sagrado santuário seu, e desmoraliza, e avilta a nação inteira! Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da sociedade, e dizei-me:

Para que se deu em sacrifício o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não é verdade que seu sangue era o resgate do homem! É então uma mentira abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade… Não vedes o abutre que a corrói constantemente! Não sentis a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói? Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e será sempre um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado.
REIS, M. F. Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018.

Inscrito na estética romântica da literatura brasileira, o conto descortina aspectos da realidade nacional no século XIX ao:

A revelar a imposição de crenças religiosas a pessoas escravizadas.
B apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão.
C sugerir práticas de violência física e moral em nome do progresso material.
D relacionar o declínio da produção agrícola e comercial a questões raciais.
E ironizar o comportamento dos proprietários de terra na exploração do trabalho.

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