A palavra revelação tem sentido de descobrir, descerrar, remover o véu. Assim sendo, quando a Bíblia fala da revelação divina, o pensamento em mente é o Deus Criador dando a conhecer ao homem o seu poder e glória, sua natureza e caráter, sua vontade, caminhos e planos, sua graça, seu amor, sua misericórdia, em suma, a si mesmo, a fim de que os homens possam conhecê-lo.
1. Deus Revelado na Natureza
Davi descreve a Natureza como o primeiro embaixador de Deus (Sl 29.1-6). Ele disse que os céus narram a glória de Deus. Também no seu tempo escreveu o profeta messiânico: “Levantai ao alto os vossos olhos, e vede, quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele chama pelos seus nomes; por ser ele grande e forte em poder, nem uma só vem a faltar” (Is 40.26). De igual modo escreveu o patriarca Jó: “Mas, pergunta agora às alimárias, e cada uma delas to ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber. Ou fala com a terra, e ela te instruirá; até os peixes do mar to contarão. Qual entre todos estes não sabe que a mão do Senhor fez isto?(Jó 12.7-9).
a) A Natureza, o Espelho de Deus
A Criação toda revela o Criador. Gênesis 1 e Salmo 104, mostram detalhadamente que Deus fez cada coisa para um fim determinado, colocando tudo também no lugar conveniente. Por isso, toda a Natureza se constitui num hino de louvor a Deus, conforme lemos no Salmo 108. O crente também deve sempre louvar a Deus, como Criador: “Tu és digno, Senhor Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4.11). Os povos pagãos, vizinhos de Israel, na sua cegueira espiritual, fizeram das forças da Natureza, divindades, às quais prestavam culto, ignorando que Deus as criou como veículos da sua revelação, como é mostrada nos Salmos 29 e 107. O trovão, por exemplo, é chamado voz de Deus (Sl 29.3), o terremoto (Hc 3.6), o fogo e o vento, por exemplo, são alguns agentes de juízo nas mãos de Deus. Os elementos na Natureza não manifestam por si mesmos, a presença divina. Isso seria confundir Deus com a Natureza, e assim cair no erro do panteísmo. Na bem conhecida cena de Elias no monte Horebe, a tempestade, o terremoto, o fogo e o som tranquilo e suave, eram apenas elementos precursores da revelação pessoal de Jeová.
b) O Perigo da Rejeição Desta Revelação
No primeiro capítulo da Epístola de Paulo aos Romanos, está registrada a denúncia divina contra aqueles que, tendo contemplado as maravilhas da Criação de Deus, não o glorificaram como tal, antes tendo-se na conta de sábios aos seus próprios olhos, adoraram a criatura em lugar do Criador (Rm 1.18-21).
Ali eles são acusados de: a) mudarem a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, bem como de animais; b) mudarem a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo à criatura, em lugar do Criador. Por causa das suas perversões, foram abandonados por Deus e entregues às paixões vis: Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes.A Natureza é, pois, qual espaçosa janela aberta em direção ao infinito, convidando o homem a adorar Àquele que tudo criou segundo o seu Santo e soberano conselho.
2. Deus Revelado a Israel
Deus fez do povo de Israel o centro de sua revelação na terra, para, através dele, abençoar toda a humanidade. Nenhum outro povo na terra, durante sua história, teve tanta certeza de que Deus age direta e pessoalmente com ele, quanto Israel. Disto dão prova os seguintes textos das Escrituras: Romanos 3.2 e Neemias 9.13.
a) A Revelação de Deus na História
A revelação de Deus na história de Israel é algo constante e patente. Ele atesta o seu favor, bem como sua provisão para com o povo que para si Ele escolheu. Milagres, tais como os relatados no livro de Êxodo, ou a fuga do exército assírio diante de Jerusalém no ano 701 a.C, provam a intervenção direta de Deus confundindo os inimigos do seu povo. Essa intervenção era posta em tão grande realismo, que os próprios fenômenos da Natureza lhe estavam sujeitos: a parada do Sol por Josué (Js 10.12), e o recuo da sombra como evidência de decisão divina de curar Ezequias (Is 38.8), mostram até que ponto aprouve Deus revelar-se ao povo que Ele escolheu para si.
b) Relação e Revelação de Deus
O fundamento da atitude religiosa de Israel era a aliança que Deus estabelecera entre si e a descendência de Abraão (Gn 17). Esta aliança foi uma imposição real mediante a qual Deus se comprometeu, perante os descendentes de Abraão, de ser o Deus deles, dessa maneira dispondo-os a invocá-lo como o Senhor Todo-poderoso. O fato de Deus tornar conhecido o seu nome (=Jeová), foi um testemunho da amistosidade do seu relacionamento com Israel. O nome, até certo ponto, significa tudo quanto uma pessoa é, pelo que, quando Deus disse aos israelitas qual era o seu nome, isso assinalou o fato de que, conforme Ele era, em todo o seu poder e glória, estava comprometido a cuidar do bem-estar deles.
c) Guardado sob Juramento Divino
Lendo o capítulo 15 de Gênesis, encontramos as bases da aliança de Deus com Israel, através do seu ancestral, o patriarca maior, Abraão. O citado capítulo registra a “aliança de sangue” (o contrato social de maior importância naquela época) e suas circunstâncias peculiares. Registra que Abraão caiu em sono profundo e que Deus, Ele mesmo, como um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo, passou entre as metades dos animais sacrificados que estavam no solo. Este era o selo da cerimônia.De modo geral, ambas as partes contratantes teriam de passar entre os animais divididos, significando que cada uma delas aceitava as obrigações que lhe eram impostas e as cumpririam.
O fato de Deus agir sozinho nessa cerimônia significativa constitui uma afirmação clara, naquela altura, quanto às intenções de cumprir suas promessas, sem levar em consideração o que Abraão e os seus descendentes pudessem ou não fazer! Desse modo, o contrato normal de aliança tomou o aspecto de uma aliança de juramento. Deus tomou e confirmou a decisão de escolher Israel e fazê-lo povo seu, decisão que não seria modificada por coisa alguma que o homem fizesse ou deixasse de fazer. Através de Israel Deus tencionava revelar sua beleza a todas as nações do mundo. Por conseguinte, Deus continuou revelando-se à comunidade de Israel através de suas palavras, de leis e de promessas.A principal ênfase da revelação de Deus a Israel recai sobre a sua fidelidade à aliança feita com Abraão, sua paciência e misericórdia, e sua lealdade aos seus propósitos. “Quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente te abençoarei, e te multiplicarei” (Hb 6.13,14).
3. Deus Revelado aos Profetas
O homem jamais conhecerá a Deus a não ser que o próprio Deus aja nesse sentido. O “fato da revelação de Deus é expresso com o auxílio dos seguintes termos: Deus se revela, Deus se deixa ver”(Gn 35.7,13;12.7). Deus torna conhecida a sua vontade e, também Deus fala, fato atestado pela tão conhecida expressão bíblica: “Assim diz o Senhor”.
a) Resumo da Teologia e da Piedade
Deus se dá a conhecer ao homem e o homem deve com temor, humildade e obediência buscar conhecer a Deus. Este conhecimento comunicado por Deus a respeito de si mesmo, ao homem, é o único em seu objetivo, e, diversificado por causa dos meios empregados, pois, sendo Deus o Senhor de tudo e de todos, Ele revela-se como bem lhe aprouver fazê-lo.
b) A Quem Deus se Revela
Geralmente a revelação de Deus está reservada primeiramente aos seus escolhidos, que o buscam, que o servem e andam em comunhão com Ele. Jesus Cristo disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21). Segundo o rei Davi, “o segredo do Senhor é para os que o temem” (Sl 25.14). Essa revelação divina está condicionada às limitações humanas. Moisés pôde ver a Deus, apenas mediante determinadas condições (Ex 33. 17-23). Muitos dos profetas do Antigo Testamento registraram a experiência de um contato pessoal com a revelação de Deus. Dentre eles se destacam, evidentemente, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e Amos (Is 6.1; Jr 31.3; Ez 1.26-28; Dn 10.5,6; Am 9.11).
c) A Revelação Divina Através da Palavra
Escreveu o profeta Amos que “o Senhor não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas” (Am 3.11). Aos profetas Deus manifestou os seus segredos não só pelo que lhes deu a ver, mas também pelas palavras que lhes comunicou.A palavra é o sinal característico do ministério profético (Jr 18.18). “Natã e Elias, dentre os primeiros profetas, aparecem como homens da palavra na sua boca” (Jr 1.9), nos seus ouvidos (Is 5.9; Jr 23.18,22).O profeta tem ingresso no conselho de Deus.Quando o profeta recebia a revelação de Deus, tinha plena consciência de que Deus o tomava naquele momento para isso. Ele sabia que não era apenas uma força ou inspiração que o tomava, mas uma pessoa viva, real e divina – Deus (Ez 11.5; 2 Sm 23.2; Is 52.15).
4. Deus Revelado aos Apóstolos
No Novo Testamento, Cristo é a suprema revelação de Deus, seguido dos apóstolos e escritores que prosseguiramrecebendo e transmitindo essa revelação até o Apocalipse. Cristo e os apóstolos são um cumprimento da figura de Moisés e dos profetas do Antigo Testamento como mediadores da revelação divina.O apóstolo Paulo, a quem Deus confiou grande parte da revelação divina no Novo Testamento, não foi contado com os doze, contudo recebeu profundas revelações, mistérios ocultos no passado (Cl 1.26,27; Gl 1.11,12).
5. Deus Revelado à Igreja
Sobre a revelação de Deus nestes últimos dias à Igreja, diz o escritor da epístola aos Hebreus que havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho(Hb 1.1,2).
a) O Agente Revelador de Deus à Igreja
Quando Jesus falava aos seus discípulos e apóstolos, da necessidade de ausentar-se fisicamente dentre eles, disse que sua ausência seria suprida pelo agente revelador do Pai e do Filho, o Espírito Santo (Jo 16.13-15). O Espírito Santo jamais fala de si mesmo, mas comunica, aos santos, aquilo que o Filho quer revelar.
a) Revelando o Mistério do Beneplácito de Deus
Paulo declara que o “mistério” (segredo) do “beneplácito” de Deus, visando à salvação da Igreja e à restauração da humanidade caída, por meio de Jesus Cristo, foi agora revelado, depois de haver sido mantido oculto até o tempo da encarnação do Verbo Divino (Rm 16. 25,26; 1 Co 2. 7-10; Ef 1.9; 3.3-11). As origens da Igreja estão no eterno passado, conforme o propósito de Deus, mas a sua razão de ser e de existir no mundo é claramente mostrada na revelação de Deus sobre ela.
b) Uma Maior Revelação
Se grande foi a revelação dada por Deus a Israel, através da Lei, na pessoa de Moisés, maior é a revelação de Deus através de Cristo, comunicada pelo Espírito Santo à Igreja. A revelação divina confiada a Israel deveria ser o ponto de partida para que esse novo povo desse testemunho de Deus às demais nações da terra. Mas Israel falhou na sua vocação. Já a revelação de Deus à sua Igreja capacita-a a dar testemunho da grandeza de Deus, não só aos homens, mas também aos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.10). A marcha triunfal da Igreja, como coluna e baluarte da verdade, se constitui em mais uma prova indiscutível de que Deus existe e se compraz em se dar a conhecer aos filhos dos homens. Continuar lendo…